30 de abril de 2011

O indescritível

Sobre arte conheço muito muito pouco, sei ainda menos. Confesso-o à partida para desmotivar pensamentos críticos às apreciaçoes que farei em seguida... o que se segue é escrito por um leigo assumido na matéria.

E como ignorante que sou o melhor é tentar deixar conjecturas mais formais para outros e partilho apenas aquilo que senti.

O valor de uma (boa) crítica está em ser analisada, comparada e creditada... partilhar sensaçoes é menos nobre; variam de pessoa para pessoa, sao subjectivas e pior... as melhores, aquelas que mereceriam realmente ser partilhadas, essas, costumam ser indescritíveis. Para nao falar que nao é coisa de homem claro! Que sao quem faz normalmente este tipo de apreciaçoes (críticas).


Tenho visitado alguns museus Espanhóis, visto muita arte Espanhola e nao só e existem quadros que... digo-vos... só por existirem já merece a pena viver para os ver... é o que sinto... eu que nunca estive ligado à pintura.

Nenhum ecran de computador ou televisao faz jus à realidade, a de estar em frente de um quadro destes, ver os detalhes, a nitidez, a cor! Por isso, deixo-os aqui sem esperança de que passem mais que uns breves segundos a olha-los, mas com a intençao de vos deixar alguma vontade de os visitar (de me visitar a mim quem sabe!? para os visitar a eles...), vale realmente a pena!

Diego Velázquez  nasceu em Sevilla e nao entrando em pormenores que nao domino, entre outras muitas coisas, é reconhecido como um pintor com a capacidade de pintar momentos como se fossem uma foto - ou seja, um momento instantâneo - fora do comum: capta expressoes de uma forma que nos deixa (ou: que me deixa) abismado.
O melhor exemplo para mim é o quadro El triunfo de Baco conhecido genericamente como Los borrachos (Os bêbedos). As expressoes neste quadro sao... indescritíveis!




Outro quadro dele que me deixou boquiaberto, pelas expressoes também, mas mais pelo conceito, por tudo o que implica, foi o quadro Las Meninas. Este já conhecia, mas nao pensei que fosse tao envolvente visto ao vivo.


É um quadro de enormes dimensoes e a uns 5 metros dele estamos na posiçao dos Reis de Espanha que estariam a ser pintados e que estao reflectidos no espelho no fundo da sala. Nesta posiçao, temos o próprio Velázquez a olhar para nós concentrado e as meninas que nos olham com curiosidade... é... indescritível!


Em intensidade, nenhum outro quadro superou o seguinte de Picasso: Guernica.
Ver este quadro de dimensoes gigantes pendurado numa longa parede branca foi a coisa mais intensa que me aconteceu num museu.


Depois de estar a olhar para ele durante 10 segundos a vontade é de sair da sala... é desconfortável, sente-se uma taquicardia, algo perturbante, visceral, sombrio, mórbido, aflitivo... Por outro lado, tem tanto para ver que ficamos ali, largos minutos, a tentar perceber onde acaba uma cena e começa outra, a intençao daquela figura, a expressao, a mensagem. Foi algo de realmente diferente.
Vi vários de Picasso, e claro, muitos podia colocar aqui, mas porque os mais conhecidos como este já todos ouvimos falar deixo esta Figura de 1928 (estes sao os dados que a descrevem) que achei curiosa, perdi algum tempo a olhar para ela também. Aqui na net só encontrei esta imagem e nao sei porque está assim, mas é o inverso vertical da original.



Se por um lado Picasso foi o que me fez sentir "coisas" mais concretas Dali foi o que me deu sensaçoes mais confusas. Nao vi nenhum quadro dele que conhecesse, mas o estilo inconfundível reconhece-se de longe na sala e lembro-me de sentir como que uma explosao! ao ver os quadros dele. A palavra é exactamente essa: explosao! Nao sei se de emoçao, de estranheza, sensaçoes, uma explosao cognitiva... nao sei definir bem... mas é como uma amálgama de algo.

El gran masturbador

El enigma de Hitler

Com Picasso Gris, Braque foi um dos criadores do cubismo.
Este movimento é repetidas vezes criticado e desprestigiado por leigos como eu. No meu caso, e porque tenho esta máxima em mim; se várias pessoas dizem de uma forma e eu penso de outra, ainda que nao seja regra, o mais provável é que eu esteja errado. Por isso fui investigar e percebi que o que torna o cubismo tao importante é por na sua época ter rompido com as técnicas renascentistas que foram importantes no seu tempo mas vinham sendo repetidas sem muito mais originalidade. No livro que já recomendei aqui "Breve História do Saber", tem uma parte muito simples e elucidativa onde explica a História, o propósito e outras trivialidades sobre o cubismo e fez-me perceber que a sua intençao é pintar, apenas no plano da tela, todas as perspectivas de um objecto. Ou seja, num quadro cubista pretende-se pintar todo o objecto, todas as vistas, todas as perspectivas.
Desta forma, e num caso especial que é este quadro, Braque, a meu ver, adiantou-se às televisoes 3D e pintou um quadro que pelas linhas, sombras e brilhos, parece que tem realmente volume há medida que passamos por ele na sala:

Cartes et Dés

Confesso que gosto muito dos quadros de Mark Rothko, já ha bastante tempo que gosto e inclusivamente já tive alguns como fundo de ecran no meu computador. Sei que do ponto de vista técnico trazem muito pouco... mas aquelas nuvens a pairar naqueles espaços incertos... tenho de admitir que me transmitem algo, nao sei, e gostava de ter algo parecido numa casa que venha a ter.
Vi um quadro dele pela primeira vez ao vivo aqui, primeira e única porque era o único no museu, numa parede entre a esquina com outra e a entrada para outra sala, estreita e alta, devia ser o único quadro que conseguiam enfiar ali e lá está, um bocado desprestigiado o Rothko. É este:


Un Mundo: ao ver este quadro do fundo da sala fiquei na dúvida se seria um Dali, um Picasso ou um Tim Burton - risos. Afinal era um Torroella, um bom equivoco penso, um bom elogio no fundo. Ao vê-lo, de novo um quadro enorme - admito que me deixo impressionar por quadros grandes -, experimentei uma sensaçao de pernas enfraquecidas, como quando ficamos nervosos com algo, inseguros. É impressionante!


E para terminar deixo um video dos Irmaos Lumière - Danse Serpentine II -, passava numa das salas de um dos museus, sem som apesar de já com esta cor. Foi gravado em 1899 e estes dois efeitos foram adicionados posteriormente.
Vi o video repetir-se algumas vezes e pergunto-me se agora, 100 anos depois, será possível em alguma parte do globo assistir a um espectáculo destes... gostava bastante.


Espero nao ter descontribuido para a vossa cultura artística, e que vos tenha deixado alguma vontade de visitar mais museus... nao é algo que fizesse muito admito, mas vou passar a fazer mais regularmente, vale realmente a pena!

4 comentários:

  1. Não consigo partilhar totalmente estas tuas opiniões mas fico honesta e sinceramente orgulhoso em reconhecer que cresceste um ser humano maravilhoso e sensivel,que bom que existes e és como és.

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  2. Muito obrigado pelo comentário tao agradável! Vejo que me conhece há muito tempo, peço desculpa, mas só pelo apelido nao sei quem é!

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  3. O teu tio ... zé antonio. .. ahhah!! Gosto muito de ti sobrinho, não te digo as vezes que gostaria, mas gosto muito de ti e fico orgulhoso por te ver tão crescido !!! o nome foi o que surgiu na altura para não chatear muito Dias da avó e 120 porque o 12 o 1200 e o 12000 já estavam ocupados

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  4. Pensei que fosses tu =) mas era para tirar as dúvidas!
    Sempre foste um muito bom exemplo para mim, e em muito aprendi contigo... só nao em política, essa nao a vemos da mesma forma ;D
    Abraço e beijinho à avó!

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