27 de novembro de 2012

Provérbios 26 e o Star Wars

Tem havido muita contestaçao pela aquisiçao dos direitos do Star Wars pela Disney.
Eu devo confessar que nao sou um fa incondicional desta saga, mas devo completar que nunca vi os filmes com olhos de ver, nao lhes segui a história nem o contexto real e acrescento ainda (com verdade e para nao perder metade dos leitores) que tenho vontade de ver todos os episódios pela ordem correcta (ou seja do 4º pró 6º e do 1º pró 3º) e com olhos de ver!

Dito isto, assumindo-me como ignorante na matéria mas ávido de corrigi-lo, está claro que do pouco algumas poucas coisas retive, como aquele Jedi pequeno e verde com uma forma engraçada de falar chamado Yoda que ora manca ou tem uma agilidade que o torna difícil de focar com a camera. É uma personagem central, enigmática e determinante e eu nao quero desprestigiar este Jedi que me pareceu o mestre dos mestres Jedi mas pelo menos numa coisa ele nao é original, ou diriamos em verdade, o George Lucas nao foi original, e isso foi precisamente na forma engraçada de falar...

Os portugueses sempre foram bons conselheiros só nao sabiam que o faziam de forma tao hollywoodesca, por dizê-lo desta maneira. Que o George Lucas nao foi original, vamos vê-lo agora mesmo, se fez bem ou nao em ter vendido os direitos há Disney isso eu já nao sei, mas sei que:

Quem te avisa teu amigo é!

26 de novembro de 2012

As meias e o Mahjong

Já uma vez escrevi aqui como nao gosto de encamarar meias. E como nao gosto é uma actividade que gosto de procrastinar - podia dizer "adiar", é verdade, mas é para parecer que apesar de preguiçoso sei umas palavras difíceis de dizer.

No entanto sou obrigado a encamara-las - e esta palavra nao encontro no dicionário, mas a minha mae sempre me mandou "encamarar" as meias e se a minha mae me mandava fazê-lo e eu sabia o que tinha de fazer fica deste modo comprovado que a palavra existe e é portuguesa! - no momento em que fico com um novelo de meias alí no canto e nenhum par para calçar.

Emparelhar - que o português nunca nos falha quando queremos dizer o mesmo de maneiras distintas, ou, pode ainda dizer-se, de maneiras distintas dizer o mesmo - meias foi o que estive a fazer até agora e a sensaçao que me dá ao espalha-las para melhor ver-lhes das semelhanças ou, por defeito, as diferenças é que estou a jogar Mahjong... onde todas as peças sao iguais até ao momento em que se olha bem e se nota que todas sao diferentes, focamos uma peça e passamos minutos a procurar outra igual "Esta!... Nao, tem um risco vertical. Esta!... Também nao, a cor é diferente. Esta! Ainda nao..." O problema agrava porque ao contrário do jogo nao temos as "Jogados disponíveis" no fundo do monitor nem a tecla de ajuda.

Eu até gosto destes joguinhos da internet mas, coincidência ou nao, nunca gostei muito do Mahjong...

7 de novembro de 2012

Cérebro VS Músculos

Há uns dias, entre outro mobiliário reformativo, comprámos cadeiras novas para os meus pacientes se sentarem, as que tínhamos eram bastante antigas já. Os meus colegas entravam e saiam do meu gabinete e comentavam as mudanças, nisto chegou o V, aquele que sendo um ano mais velho que eu é a segunda pessoa mais nova da empresa.

V - Estas cadeiras sao porreiras.

E pôs-se, como bom espanhol, a segurar na cadeira com as maos e a examina-la.

Nisto lembra-se - eu repito que somos os mais novos da empresa e pronto, espero desta forma justificar o que vem a seguir - poe a cadeira no chao e fez aquilo que eu fiz várias vezes na escola secundária, que era tentar levantar uma cadeira com uma mao, segurando numa pata junto ao chao. Víamos,  na altura e desta maneira, quem dos "homens" é que tinha mais força.

Nao sei que conhecem o "jogo" mas é só isso: levantar uma cadeira segurando com uma mao numa das extremidades de uma pata, ou seja, com o lateral do mindinho a tocar no chao, daqui, tentem levantar a cadeira... nao é fácil, garanto-vos!

Bom, ele nao conseguia levanta-la, levantava 3 patas do chao mas a diagonal de onde segurava a cadeira teimava em nao levantar....

Como pessoa mais jovem da empresa, com a minha espectacular maturidade juntei-me aos risos dos que já estavam a olhar e tentei também eu, e também eu com insucesso, levantar a cadeira!...... (sim estava no meu horário de trabalho e sim estavam a pagar-me por passar tempo a tentar levantar uma cadeira com uma mao... ahahah... mas todos temos estes momentos nao é verdade....... eu gosto do meu trabalho!)

Ninguém conseguia levantar totalmente o raio da cadeira do chao, tentamos várias vezes, era o quase quase mas nada...

Ele continuava a tentar, alguém tinha de conseguir, parecia que um esforçozito mais e ela levantava do chao.

Ele tentava e eu pus-me a pensar!

"Ora... a cadeira levanta-se bem com uma mao se a segurar noutro ponto, a dificuldade desde "jogo" existe porque o centro de massa da cadeira - que deve estar mais ou menos a meio do assento mais para o lado das costas - está muito longe da minha mao, o braço da força é grande, isto multiplicado torna a força para levantar a cadeira neste ponto muito grande! O que tenho de fazer é aproximar o centro de massa da cadeira ao ponto onde estou a fazer força pulso/cotovelo/ombro.... ora deixa tentar!"

Em vez de me por de frente para a cadeira e a agarrar por uma pata qualquer, deixei-a ficar de frente, com o assento próximo de mim, mas como que a abracei - sem tocar claro, isso era batota - e fui agarra-la na "pata de trás". Desta maneira tinha a cadeira envolta pelo meu braço e próxima do meu tronco e articulaçoes que estavam em tensao  e... voilá! levantei a cadeira do chao!

Fiquei surpreendido comigo mesmo! nao pela força porque essa era a mesma, mas por ter resultado!

Quando expliquei a teoria riram-se de mim como quem diz "tá calado!", mas quando voltei a levantar a cadeira outra vez da mesma maneira ficaram pensativos e, calados!

Já dizia um dos meu Tutores de Oxford:

Knowledge is Power!

5 de novembro de 2012

O meu trauma com os cabeleireiros

Nao tenho grande vaidade no meu cabelo, gosto do ter curto e arranjado mas normalmente nao demoro mais de 10 segundos a pentear-me todas as manhas. Ainda assim consigo ter um trauma de cada vez que vou ao cabeleireiro, um nervoso miudinho que me faz, por debaixo daquele babete gigante que nos poe, apertar as maos uma na outra e desprender um olhar vazio ao espelho para me abstrair daquele local e nao ficar com os nervos em franja.

Tudo começou - acho eu, mas tem sentido que assim seja já que me recordo com esta nitidez e sentimento -  quando eu ainda tinha uns 10 anos.
Até esta altura cortava sempre o cabelo como a minha mae mandava "à rapazinho" que é pelos vistos o termo técnico de cabeleireiro para risco-ao-lado. Era um corte dificil para mim, os remoinhos que tenho na zona do frontal e na parte posterior dos dois parietais impossibilitavam qualquer perfeito risco ao lado (pronto pronto... mas também eu quis por aqui termos técnicos... fazem parte do meu ofício!)
Depois desta idade e por sugestao daquele que veio a ser o meu cabeleireiro durante vários anos, responsavel nao só pela minha mudança de look mas pelo meu trauma também, passei a usar um penteado mais... radical que, toque aqui toque ali, continua a ser o mesmo que uso hoje! Termo técnico usado pelo cabeleireiro - que além de ter o seu salao de cabeleireiro também era polícia e que, como se isto nao fosse peculiar bastante, tinha ainda uma agência de imóveis - era um corte à escovinha! nao se esqueçam do à, pareceu-me fazer parte importante do nome! Eu descrevo-o, de cada vez que vou a outro cabeleireiro, como maquina-dos-lados-e-atrás-e-em-cima-tesoura-para-espetar-e-despentear, estranho ou nao, a mim parece-me mais simples que à escovinha!

Bom, mas eu gostei do corte, tanto é que ainda hoje o uso, por isso perguntar-se-ao porque maneira ele me traumatizou! E perguntam bem!

A questao nao é complexa mas exige detalhe.

Eu nao sei se o senhor Cabeleireiro era bom polícia, nunca o vi fardado, mas nao o tendo visto de igual modo a vender casas, estou seguro que era um bom vendedor! Isto porque ele passava o tempo todo em que me cortava o cabelo a elogia-lo (ao cabelo... ao meu cabelo): "Que cabelo espectacular!" "Com o teu cabelo podes fazer o que quiseres!" (Quando ele dizia isto eu pensava nos meus remoinhos e sorrindo anuía simpaticamente) "Quem me dera ter um cabelo como o teu!", o bigode mexia agitado de um lado para o outro enquanto falava , mas os olhos ficavam realmente compenetrados no meu cabelo e daí nao se moviam um milímetro o que me fazia crer no que dizia. Ora aqui começa o meu trauma!

A este Cabeleireiro-Polícia-Vendedordecasas eu devo o corte que tenho hoje e eu gostava do corte que ele me fazia, mas... (é agora) havia um problema: podia ser melhor...

De cada vez que me cortava o cabelo, no processo do corte, havia sempre um momento em que eu pensava "Perfeito! Está mesmo como eu quero!" mas ele continuava... a falar e a cortar a falar e a cortar e eu, do alto do meu início de adolescência nao tinha coragem de interromper aquele Senhor alto, barrigudo e de bigode! Nao sei, sentia-me constrangido, como se fosse má educaçao e deixava-o continuar. Sempre que ia cortar o cabelo passava-se o mesmo. Lembro-me que uma vez - depois de muitas vezes...- ganhei coragem e a medo sugeri que assim estava bom! o senhor Cabeleireiro simpático e profissional como sempre responde "Ah sim? Está bem, deixa-me só fazer-te aqui o disfarce desta zona para nao ires com o cabelo às escadinhas." e deixou-me o cabelo como deixava sempre...
Depois dessa tentativa frustrada nao voltei a tentar e lá ia eu penitente cortar o cabelo. Era como ir ao Quem Quer Ser Milionário (um dia faço um post da minha ida, de verdade, ao QQSM), ter na mao o grande prémio mas errar a última pergunta e vir para casa com metade do bolo... uma espécie de satisfaçao amarga.

Seria de esperar que 15 anos depois eu estivesse há vontade para dizer como quero o cabelo a qualquer cabeleireiro, mas... admito-o algo embaraçado, nao é verdade! Quando os vejo com aquele à vontade com as tesouras e pente em riste, nao sei, sinto que sao os profissionais e que eu nao percebo nada e normalmente, depois da indicaçao inicial "maquina-dos-lados-e-atrás-e-em-cima-tesoura-para-espetar-e-despentear" as únicas palavras que troco sao as respostas a questoes que normalmente se prendem com temas que desconheço, como a UEFA ou o Fernando Alonso...

E porque é que eu me lembrei de isto hoje?
Porque hoje cortei o cabelo!

Aqui em Espanha vou sempre ao mesmo sítio, descobri um cabeleireiro onde trabalha uma cabeleireira que me corta o cabelo exactamente como eu quero. Fala pouco, e faz o que lhe digo ao princípio, perfeito! Aliás a vez que falou mais foi num dos cortes onde me tentou vender um cera para o cabelo, mas quando me disse o preço e eu vi que custava quase 4 vezes mais que a que uso tive mesmo que dizer "Nao obrigado!"

Bom, mas hoje, fui ao tal cabeleireiro - devo descrever que este neste estabelecimento trabalham uns 10 profissionais e destes pelo menos dois só cortam os cabelos a homens - apareceu-me um cabeleireiro novo a dizer que era a minha vez! Vi a cabeleireira de sempre que estava ocupada, queria esperar, mas com o bloqueio infantil nao tive coragem de dizer ao senhor "Desculpe, mas eu prefiro que seja ela a cortar." nao sei... continua a parecer-me falta de educaçao (ou desta forma justifico e aceito este recalcamento...).

La começou o Cabeleireiro a cortar-me o cabelo e logo desde início vi que a coisa nao ia bem, estava passar a máquina só um pouco acima da orelha. Com a coragem do alto do meu início de vida adulta disse: "Pode subir mais a máquina, corte todo o lateral com a máquina" ao que ele respondeu "Ah nao se preocupe, eu depois daqui corto com a tesoura, sempre cortei assim, para respeitar mais a forma do cabelo!" e eu calei-me... e... foi o que eu estava a espera: massajava as maos debaixo da cortina de plástico e sorria vagamente para a minha figura no espelho, no final disse que estava bom (e nao está muito mau, diga-se), paguei e vim-me embora..., para vir desabafar aqui!!:

Eu nao pedi para me respeitarem o cabelo! pedi para mo cortarem! como eu disse!... parecendo que nao já o corto assim à 15 anos, eu sei como o quero! Cabeleireiros do mundo: nao se compliquem a vida! se vos pedirmos para cortar o cabelo de determinada maneira... façam isso! Há pessoas como eu que se sentem intimidadas com a vossa mestria e certeza!...

(Suspiro)

Sim, acho que é seguro dizer: tenho um nível ligeiro de capilofobia...

(Risos que crescem em gargalhadas)

31 de outubro de 2012

PIGS

No outro dia encontrei-me com um amigo Coreano que veio visitar Madrid.
Punha-mos a conversa em dia no Museo del Jamón - esclareço já qualquer equivocaçao com os nomes: o Museo del Jamón tem muito de cultural sim, pelo espírito Espanhol que vive dentro, pelas cañas, pelas tapas e pelos presuntos pendurados a forrar as paredes, mas nao por qualquer outra obra edificadora ou considerada artística sobre este fumado. Bebiamos umas cañas e conversavamos de trivialidades até que ele me perguntou se a crise se fazia sentir em Espanha. Exposto o evidente ele conclui:

- Pois, é que voces pertencem à economia dos PIGS.

- Como? - perguntei achando que tinha percebido mal.

- PIGS! - e como se fosse a coisa mais evidente do mundo desenrola a sigla - Portugal, Italy, Greece and Spain. A Irlanda é agora normalmente englobada tambem, PIIGS.

Eu nao queria acreditar, fiquei de boca aberta e ele perguntou (e perguntou para confirmar várias vezes depois):

- Nunca tinhas ouvido? A serio? É como vos chamam nas noticias, como agrupam os países da crise.

- Mas que noticias??????

- As internacionais, Inglesas acho eu.

Fiquei estupefacto!
Ja confirmei e parece que sim, que é uma sigla vulgarmente utilizada em jornais e telejornais...
Nao sei, mas sinto-me estranha e exacerbadamente ofendido.

15 de outubro de 2012

Provébios 26

Estou a ler o Ensaio sobre a Lucidez do Saramago. Nao está a ser um dos livros que mais gosto dele, mas nao deixa por isso de ser uma boa leitura.
Numa das suas divagaçoes, chamadas por uns, descriçoes supérfulas, dirao outros, ou momentos de narrativa soberba, enaldecerao uns quantos, Saramago escreve aquilo que acredito ser um desses provérbios mais antigos que vao caindo em desuso mas que ele sempre lembra, uma e outra vez, em cada livro. Eu pelo menos nunca o tinha ouvido, fica aqui:

(...) a esperança é como o sal, nao alimenta mas dá sabor ao pao.

Nunca fui uma pessoa de grandes esperanças, gosto de ser consequente, mas como bom Português, gosto da comida salgada!
Que nunca nos falte o sal, é uma nota inerente à nossa comida!

23 de setembro de 2012

Medio Oriente!?

O serao tinha sido passado a tomar chá! Numa mesa redonda olhávamos para a Plaza Castilla e bebericávamos dos pequenos copos comprados em Córboda que ofereci ao anfitreao por ocasiao do seu regresso a Espanha. O chá era do Mercadona, mas pela companhia ou provavelmente pelo doces típicos vindos do Irao, sabia como um verdadeiro chá da Pérsia.

Decorrido o serao animado com vídeos, musica e debates filosóficos e políticos decidimos dar um passeio até às Puertas del Sol, sabíamos que o caminho era recto, só nao tínhamos certezas da linha a seguir.
Ao perguntar aos prestáveis transeuntes espanhóis todos nos diziam que era demasiado para andar! que devíamos apanhar o metro, mas insistíamos em que queríamos andar e entre advertências lá nos explicavam o caminho: "sempre em frente nesta direcçao". O Google Maps diz-me agora que caminhamos exactamente 8.0km, foi um bom passeio que acho que repetiremos!

O objectivo era beber uma caña no destino e assim o fizemos. Naturalmente, a conversa continuou e continuou mais ou menos assim:

A- Igor, aqui na Europa as pessoas confundem muitas das coisas que se passam no Médio Oriente! O caso dos camelos que falamos há pouco! Ouve-se falar em camelos no Egipto e de repente todos os países do Médio Oriente têm camelos, isso é uma coisa do deserto!

I - Sim, é verdade, nós confundimos um bocado essa zona do globo... árabes e muçulmanos, Afeganistao e Paquistao, a antiga Uniao Soviética, para nós é tudo o mesmo.

A - O que é para ti o Médio Oriente afinal?

Fiquei um bocado embasbacado com aquela pergunta! "O que é para mim o Médio Oriente?" - pensei! A primeira resposta que pensei foi, "é tudo o que na Euroasia nao é Europa, Russia, China, Koreia e Japao" e ri-me mentalmente, mas dizer o que "nao é", nao é bem o mesmo que dizer "o que é!" e pensei melhor:

I - Bem... hum... o Médio Oriente é aquela zona entre a Europa e a China...

A - A zona dos árabes? - Interrompeu-me o A.

I - Hum... sim, acho que se pode dizer que sim!

A - Igor, no Médio Oriente tu tens árabes, turcos, persas, judeus... tens uma diversidade cultural e genética muito muito grande!

I - Hindus também! Sim, é verdade! Sao mais diversos em cultura e mesmo geneticamente que os Europeus.

A - Nao falemos sequer na Índia! Apesar dos Hindus serem a maioria a Índia é conhecida no meu país como o país das 72 naçoes! Sabes que se fores para o norte da Índia as pessoas sao brancas, assim como tu, já no sul têm uma pele muito mais escura, é um país com MUITA gente, e muito diverso. E o Paquistao? O que achas do Paquistao?

I - Sao muçulmanos nao sao?, imagino que sejam árabes.

A - Sao paquis! Sao muçulmanos na maioria sim, mas têm uma genética e uma língua muito diferente do árabe.

I - Realmente... nao sabia.

E fico a reflectir em como na Europa também somos maioritariamente cristaos. Mas dentro dos cristaos temos católicos, protestantes, manas, testemunhas de jeová.... e no entanto a nossa genética nao é sequer muito distante! Talvez os latinos sejam diferentes dos norte europeus, mas nao vejo grandes diferenças além desta! Por outro lado, os muçulmanos também se dividem, xiitas e sunitas como as duas ramificaçoes principais que depois se subdividem noutras separadas. Falar da Índia realmente ultrapassa o meu conhecimento... tem demasiado que nao conheço em cultura e religiao. E além de tudo isto, as diferenças genéticas sao mais marcadas que na Europa, um turco nao é um persa, e um judeu nao é um árabe e isto pode, muitas vezes, notar-se pelo olhar apenas!

Ter amigos destes países abre-me uma perspectiva do mundo que nunca tive! É realmente o conhecer de um novo lado prisma. E fico estupefacto com a minha ignorância!

5 de setembro de 2012

Os lideres nascem lideres, ou aprendem a ser lideres?

Uma pergunta frequente nos testes psico-técnicos. Uma pergunta que sempre me deixou indeciso na resposta.
Naturalmente que podemos aprender a ser pessoas diferentes, melhores ou piores conforme as nossas experiências, pelo que, naturalmente também, acho que se pode aprender a ser um bom líder.
Por outro lado, olho em volta e na minha apreciaçao subjectiva acho que existem pessoas que nao teriam a capacidade para liderar bem um grupo nem que o tentassem fazer durante anos. Se essa inadaptidao se deve a um conhecimento por adquirir ou é realmente devida a uma incapacidade comportamental inata nao consigo afirmar com certeza, mas acredito que todos nascemos com alguns traços inerentes de personalidade, pelo que sim, acho que alguns nascem mais propensos a algumas actividades e menos a outras.

Lembrei-me deste tema porque estou a acabar de ler a auto-biografia do Nelson Mandela, como já tinha dido, e chegando ao desfecho esperado começo já a pensar nas primeiras páginas onde retrata a sua infância e faço eu o percurso mental daquela vida... a forma e o meio em que cresceu, os processos por que passou e a forma como se construiu. Penso agora, há distância ilusória de umas semanas de leitura onde percorri a sua vida de mais de 70 anos, que desde pequeno se lhe mostravam esses traços que o distinguia de muitos... uma responsabilidade inerente, uma independência natural e um respeito pelos demais assegurado, boas qualidades para um líder a meu ver.

Gostei do episódio do jogo (luta) do pau que conta, senti-me identificado com estes pequenos episódios de infância que nos recordamos porque representam cada um um momento onde, de um momento para o outro, aprendemos algo. Como se de repente determinado assunto ficasse entendido e arrumado na nossa cabeça.

O Mandela lembra-se de várias lutas do pau, era um bom oponente diz, mas nao gostava quando via algum oponente humilhar o outro, afirma que se pode ganhar sem humilhar e que nunca humilhou um oponente.

Sempre fui, e continuo a ser, uma pessoa competitiva. Gosto quando faço algo bem feito, em igualdade de circunstâncias, gosto de saltar acima da média. Acredito na justiça e portanto só me revejo crédito se vir que todos os que me rodeiam têm as mesmas oportunidades que eu e que partindo todos do mesmo início eu consigo uma boa marca, nao gosto de batotas...

Lembro-me de um episódio, no secundário, onde deixei de estudar na véspera de um teste porque uma colega me disse, em preocupaçao, que nao ia poder estudar naquele dia porque a mae estava doente! Achei que era injusto que eu estudasse, já que ela nao tinha culpa da mae estar doente, e nao estudei nesse dia.

Deste episódio nao tiro grande moral, a nao ser que os adolescentes sao um bocado parvitos!

Dito isto, sei que nao humilho os meus oponentes, a satisfaçao de um bom resultado advém da minha conquista, nao da sua derrota, mas a verdade é que este sentimento, ao contrário da constância e maturidade de Mandela, foi-me aprendido por falhas pessoais em dois episódios recordados, um na minha infância e outro por altura do episódio anterior. Por me manter na mesma época conto o segundo!

...

Nos torneios inter-turmas desta altura a minha turma ficava sempre (nao me recordo nenhuma vez em que nao tenha acontecido) em primeiro lugar: no basket, futebol, voleibol, corfebol, etc, esses desportos que se aprendiam em Educaçao Física.
Antes de uma final de voleibol as duas turmas, todos conhecidos de recreio e até alguns amigos desse tempo, trocavam impropérios sarcásticos mas aceitáveis para a ocasiao. Entre as "bocas", como se diz na gíria, de um lado e do outro, a dado momento eu disse ao capitao da outra equipa, que era um, termo tecnico, "gingao" lá da escola: "Nao sei p'ra que é que vao jogar, sabes que vao perder!", a fama da nossa turma era conhecida e aquele comentário tocou-lhe a fímbria e aguçou-lhe a vontade de vencer.

A tradiçao manteve e entre abraços, gritos, ovaçoes e espera de medalhas o capitao derrotado passou perto de mim para os balneários e foi aí que eu lhe disse 3 palavras das quais ainda hoje me arrependo: "Eu disse-te!"
O que se sucedeu tenho-o gravado na mente e apagou tudo o resto pois nao me lembro nem do jogo nem das medalhas nem de mais nada; com os olhos túrgidos ele deu um passo na minha direcçao e com a mao em riste gritou: "MAS TU ÉS PARVO? ACHAS QUE ISSO SE DIZ A ALGUÉM?", ficamos, 2 segundos talvez, a olhar-nos em cólera e em espanto e ele foi-se embora, fiquei sem palavras.

Estava arrependidíssimo do que havia dito e entre aquela bola na garganta e o sentimento de culpa a hesitaçao do suposto rebaixamento demorou pouco a passar. Fui ter com ele, que estava com outros colegas derrotados e pedi-lhe desculpas pelo que disse, ele tinha razao.

Apesar do arrependimento é capaz de ter sido importante que tivesse acontecido, existem coisas assim, vivendo sao muito mais intensas, e a aprendizagem é muito mais profunda. Acredito ter adquirido uma boa qualidade!

21 de agosto de 2012

Musicas Musicas

Conduzia eu para a praia e ouvia a rádio, 3 coisas que praticamente só faço nas férias, e estas coisas sabem-me sempre a pequenos prazeres. Como tal, desfrutava conscientemente os detalhes e, como nao é normal também, prestava a atençao à letra da música que passava na rádio, que era esta:


Resultou-me estranho que uma música assim passasse repetidas vezes em horário normal (sabia que nao era a primeira vez que a ouvia) e perguntei-me quando terá sido que as músicas ficaram tao (ou tao pouco) subliminarmente sexuais. Ia continuar a crítica mental, tal qual a escrevo aqui, quando a resposta se me afigurou na cabeça:

"Há já algum tempo Igor, há já algum tempo!"



Os "velhos tempos" sao mesmo iguais aos "novos tempos"!

13 de agosto de 2012

21 Dezembro 2012 - O Fim do Mundo

Peço desculpa por ter estado tanto tempo sem escrever. Tenho estado a aproveitar as pseudo-ferias, pseudo porque nao sao de verdade, férias, porque desde que acabei a pos-graduaçao que me sinto como se tivesse montes de tempo (para nao fazer nada, e é tao bom!). Mas as ferias de verdade estao a chegar, depois de amanha exactamente, praia e pouco mais, e vou ser feliz!

E que tema melhor para regressar que o do fim do mundo?

A internet, o cinema, as revistas e as livrarias estao cheias deste tema! 2012 o fim do mundo segundo calendário Maia!

Mas afinal, o que é que os Maias disseram?

O Calendário Maia é formado por tres rodas dentadas como podem ver na figura.



Bem, parece que no dia 20 de Dezembro estas rodas terminam um ciclo completo, sendo o dia 21 como que uma nova era.

Agora, há quem diga que o mundo vai acabar, outros mais cautelosos dizem apenas que a Humanidade vai viver tempos de mudança.

Aqui no Ocidente, apesar de apenas alguns séculos mais tarde, dois ou tres, alguns religiosos quiseram fazer crer a algumas pessoas que o mundo esteve para acabar quando Cristo ressuscitou. Depois, no ano 1000, também foram registadas mortes, euforias e histerias pelo fim do mundo, ano 2000 igual, e agora 2012! Agora é o calendário Maia, depois será o Babilónio e até, quem sabe, o Antartido!!

Alguns fanáticos dizem que o mundo vai mesmo acabar, outros mais new age dizem só que o mundo vai mudar!, bem, eu acho que vai mudar sim, já vimos que tudo está a acontecer a um ritmo exponencial nao admira que algo mude, assim como mudará no dia seguinte, e no dia depois desse.

Mas se ainda houvessem dúvidas, li na National Geographic - Historia que parece ser que dois arqueólogos norte-americanos - William Saturno e David Stuart - encontraram um habitáculo Maia com vários ciclos planetários e lunares, este ciclos estendem-se mais de 7 mil anos além do nosso ano... parece que ser que a poderosa civilizaçao Maia, que alegadamente definiu o fim do mundo mas nao chegou até ele, afinal, nao aspirou a tanto (prever o Fim!) mas conseguiu descrever todos estes ciclos... isso sim acho impressionante! Mas fazer um filme com astrologos fechados num habitaculo a desenhar ciclos lunares nao é digno de Hollywood, nem vende tantos livros da conspiraçao, é pena!

2 de agosto de 2012

Porque é que...

Porque é que sempre que eu passo meia hora a cozinhar, passo duas horas a lavar a loiça, a bancada, a placa e o chao?... Nao gosto muito desta proporçao...

30 de julho de 2012

Acabei! Acabei a pos-graduaçao... catano, acabei!
(posso voltar a respirar...)

26 de julho de 2012

Kefir

Hoje é um dia importante na minha vida.
Desde que cheguei a esta casa que sabia que um dia tinha de tomar este passo e hoje foi o dia em que aconteceu.

Partilho a casa com outro ser-vivo!

Tenho um "animal" de estimaçao!!!

Classifica-lo de "animal" nao é bem correcto, mas já la vamos...

Desde que cheguei a esta, a primeira em que vivo sozinho, achei que tinha de anima-la com outra presença que nao apenas eu, um ser que me fizesse companhia!

Um animal tipo cao ou gato é demasiado complexo(!).... para a minha disponibilidade presente, e acho que nao seria eu um bom companheiro!

Pensei numa planta várias vezes, mas as mais bonitas também me parecem muito delicadas e ia morrer de desgosto quando me morressem (que é o que acho que ia acontecer...)

Pois isso fui mais longe, ou mais simples, ainda e tenho agora ao meu cuidado um Kefir!

Neste momento tenho-o ali, escondido no meio do seu substrato leitoso, mas está lá e esta noite já o vou ver quando a nossa relaçao de simbiose tiver começo e eu beber o iogurte que me está a preparar e lhe der a ele mais leite para fermentar.

Tenho uma Bactéria de estimaçao!....................
Mais precisamente é uma bio-matriz de mais de 30 Bactérias e Leveduras diferentes!!!

Mas atençao, que se silenciem os detratores da risada e da paródia porque o Kefir é uma alimento com um uso milenar e com propriedas probioticas reconhecidas e testadas.  Ao pé do Kefir, aquelas coisitas dos bifidus activos sao agua de lavar pratos, ahah.

Diz-se que vem de ha pelo menos 2000 anos atrás (ha quem fale de 4000) das montanhas do Caucaso e há quem diga até que em tempos a unica forma de se viver nos climas agrestes da Sibéria foi beber o soro de Kefir (que é como um iogurte liquido, cremoso e acido), que era a unica forma de obter vitaminas (do complexo B principalmente), sais minerais, acido folico e aminoacidos essenciais à vida.

Consegui Kefir Natural de uma colega de trabalho, nao o que se compra no supermercado, pelo que tenho Kefir para toda a vida se o cuidar devidamente.

Estou muito contente com o meu novo "animal" de estimaçao (como podem ver!), além de sossegado, nao tenho de lhe limpar nada, ao contrario, uso aquilo que me dá!

Para os curiosos deixo-vos este site, nao parece o mais credivel que li, outros têm um ar mais cientifico, mas tem praticamente tudo o que há para saber, e agora a esperar, nao se pode apressar a natureza!

18 de julho de 2012

AutoBus

Autocarro em Espanhol diz-se autobus e em Iglês simplesmente bus.


Eu nao sei se o prefixo Espanhol lhe confere algo de diferente em características ao diminutivo Inglês, mas gostava de partilhar os seguintes episódios:

Passavam alguns minutos das 23 horas e eu apanhava o último autobus de Tres Cantos para Colmenar Viejo.
Na paragem seguinte à qual entrei, um homem embriagado, acompanhado da mulher envergonhada que empurrava um carrinho de bebé, seguida por outra criança perguntou ao condutor num tom arrastado, típico da condiçao:

- Pode-nos levar a Colmenar nao pode?
- Se me paga posso claro!
- Como nao lhe vou pagar homem? Claro que sim! Abra-nos a porta de trás para entrar com o carrinho.

O motorista abriu a porta de trás e o bêbado, decorrida toda a viagem, só foi falar com o motorista (sim ele foi falar com ele) quando saiu do autobus, teve essa gentileza de agradecer com o seu hálito a cevada fermentada e saiu com a família.
Ja tinha poupado uns trocos para mais cerveja, é capaz de ter pensado...

...

Voltava de Oxford para Gatwick, para apanhar o aviao de volta a Madrid.
O condutor do bus, que nao era o mesmo da ida, repetiu as mesmas recomendaçoes de segurança e normas de funcionamento do autocarro que havia antes escutado.
Entre estas poucas normas havia a de que para se falar ao telemóvel o passageiro devia deslocar-se ao fundo do autocarro para nao incomodar os outros passageiros.
Ainda na parte inicial da viagem uma senhora - que no fim percebi ser Espanhola - atendeu o telemovel no seu lugar. Eu nao me teria dado conta se nao se tivesse sucedido o seguinte: o motorista encostou o bus na berma da autoestrada, levantou-se do seu assento e disse que nao saia dali enquanto a senhora nao desligasse o telemovel ou fosse falar para o fundo do autocarro, dito isto voltou-se a sentar no seu lugar!
Em plena autoestrada de autocarro parado em protesto a senhora explicou rapidamente (o que sao capaz de ter sido uns 30 segundos de tensao, acabou por ficar toda a gente expectante) o que lhe tinha sido dito e desliga o telemovel, acto contínuo a chave de igniçao é rodada e o motor faz o bus arrancar.


Acho que as histórias sao auto-explicativas, quando um dia ter alguma alegoria com um autocarro partilho tambem.

15 de julho de 2012

Provérbios 25

Têm sido tempos cheios!
O que mais marcou nas últimas semanas foi a minha visita a Oxford, mais precisamente ao Begbroke Science Park.
A pos-graduaçao está a chegar ao final, tive de fazer umas apresentaçoes, participar nuns workshops e agora tenho até ao final do mês para entregar a minha tese final que é sobre a caracterizaçao de uns bionanosensores.

Ter ido a Oxford foi... ... foi muita coisa! E por muitas coisas é dificil descrever. Foi muito bom, foi muito estimulante, revigorante, foi um sentimento de concretizaçao muito grande.
Visitar as bibliotecas Bodleian, passar o meu cartao de estudante para aceder às zonas interditas ao público em geral e admirar aqueles livros - aquele cheiro dos livros-, entrar na Radcliffe Camera, passar a ponte Magdalen, beber um Pint na Turf Tavern, entrar na Blackwell de Oxford... foi para mim uma semana muito especial e difícil de descrever.

Durante todo este ano, por causa desta mesma pos-graduaçao, só consegui pegar e ler 3 livros (estou na primeira metade do 3º para falar a verdade).

Li "El pequeño libro de las grandes decisiones", um bestseller na Alemanha que é como uma sebenta com 50 métodos para tomar decisoes. Tem métodos conhecidos pela maioria como a pirâmide de Maslow ou a análise SWOT, e muitos outros que nao conhecia e que achei engraçados como o cisne negro. Nao desenvolve nenhum em particular, é mesmo uma pequena sebenta, útil para quem quiser uma base para depois pesquisar e aprofundar.

Li também o "Clarabóia" do Saramago. Adorei o livro. Achei impressionante como ele já escrevia assim quando eu ainda nem era nascido. Um livro que tem tudo aquilo que é Saramago. Um final que espanta, apoteótico e nao tao habitual nos livros que dele li que costumam terminar de forma serena e (como neste) inconclusiva. Sobre este livro gostava de escrever mais, talvez noutra altura.

Estou agora a ler a autobiografia do Nelson Mandela. Um homem que nao posso descrever por nao lhe poder fazer justiça na grandeza. Um livro simples, escrito como se tivessemos o próprio Mandela a contar-nos a sua vida, os seus defeitos de caracter e fracassos, que nao foram poucos e a forma como cresceu e se tornou no que hoje o conhecemos.
Numa destas passagens, iniciais ainda na sua vida, de adolescente campesino que nao sabia ainda comer com talheres a jovem adulto que chegado a Joanesburgo conheceu outra realidade, outra visao do mundo real. Numa dessas passagens de consciência ainda prematura - e consequentemente ainda ingénua - Mandela partilha um provérbio do seu povo xossa:

Ndiwelimilambo enamagama


Que segundo ele pode ser traduzido como "Já atravessei grandes rios" e que quer dizer que a pessoa viajou muito, que tem uma larga experiência de vida e a sabedoria que daí advém.

1 de julho de 2012

O Paradigma da Educaçao Moderna


Numa destas últimas aulas dizia o Professor:

O Conhecimento evoluiu muito. Hoje, é impossível alguém, por muito inteligente que seja, conseguir saber tudo. Por muita inteligência que tenha, essa inteligência nunca será suficiente para saber tudo. Mais vale concentrar essa inteligência num ponto e estuda-lo exaustivamente.

Pensei em comentar o que estava a dizer, a aula tinha já desviado o seu curso e tinha, mas estava a ter a aula no trabalho e não quis desenvolver um tema que ia atrasar outros que tinham de ser estudados.

Mas este é o paradigma da educação moderna.
Na Grécia Antiga, bem como no seu Renascimento, era considerado um homem inteligente aquele que soubesse discursar sobre Música, Filosofia, Política, Desporto, Matemática, Arte… um homem que conseguisse ter um debate (e ganhar!) sobre os mais variados temas era um homem culto, era um homem respeitado.

Hoje o paradigma mudou. Procuram-se especialistas, pessoas que em determinada matéria sejam exímios, ainda que se permitam ser completos ignorantes em todas as outras. Um homem (ou mulher… isto mudou também, felizmente) pode saber (quase) tudo o que há para saber sobre o olho mas não saber nada sob a política externa, ou ser um pianista extraordinário e no entanto não saber plantar uma batata, a um físico brilhante chega a ser permitido saber toneladas sobre a física de projeteis mas ser um ignorante no que toca a idealização de semi-conductores.

Eu concordo com o que disse o Professor, acho que ele tem razão, mais que isso, acho que este paradigma atual é o ideal para a sociedade e para as exigências que construímos.

No entanto, apesar de saber isso, apesar de saber que o sucesso é preenchido por aqueles que se “especializam”, eu, para mim próprio, gosto mais do modelo Grego/Renascentista.

O meu pai, há vários anos, disse-me “Tu és muito bom em muita coisa, mas não és excelente em nada!”, explicitando que me devia focalizar.
Na altura aceitei o comentário como crítica construtiva que era, hoje penso nele como um elogio.

As minhas áreas de interesse são realmente muito diversas e se olho para trás, para o percurso que vou fazendo, fico a pensar que realmente comecei e deixei muitos caminhos que podia ter desenvolvido, feito crescer.

Não me arrependo de nenhum, ao contrário tenho pena de ter feito mais.

Esta semana estive na festa de graduação da turma deste ano do King’s Colleage aqui em Tres Cantos (o colégio Inglês de Madrid), o Rider terminou o secundário, e aos dois melhores alunos do ano foi-lhes permitido um discurso no início da cerimónia. O rapaz (o outro era uma rapariga) terminou o discurso com uma frase que não creio eu seja da sua autoria, mas que é acho importante:

Life is no about finding yourself. Life is about creating yourself.


Sem arrogância ou presunção, apenas com um desejo claro de busca e definição pessoal, gosto de pensar em mim como alguém cuja única coisa em que quer ser excelente, é ter a capacidade de ser bom em várias coisas.

22 de junho de 2012

(Origem e actualidade da) Nanotecnologia (no vidro) e mais qualquer coisita

As estruturas nanométricas têm várias classificaçoes e podem, por exemplo, ser naturais: como alguns polens, o salitre ou algumas toxinas aéreas produzidas por diversas algas; ou produzidas (directa ou indirectamente) pelo homem: como os gases dos tubos de escape, o fumo do tabaco tem várias nanoparticulas (várias sao ingeridas...) ou o dióxido de titânio que muitas vezes reduzido à escala nanométrica nos dá a cor branca da tinta que temos nas paredes de nossa casa ou nos cremes protectores solares que usamos na praia.

Hoje sabemos e usamos tudo isto, mas ja há muitos séculos que muitos artesaos trabalham, sem saber, nesta escala.

O caso mais evidente é o dos mestres vidreiros!
Basta entrar em qualquer igreja antiga e apreciar toda a nanotecnologia que adorna de cores o seu interior. Os vitrais destas igrejas apresentam temas religiosos e coloridos.
Os vidreiros deste tempo, muito mais por tentativa e erro que por conhecimento empírico, foram percebendo que ao diluir porçoes de materiais como ouro, ferro, cobre, cobalto, etc podiam conseguir vidros com diversas cores. Perceberam ainda que o mesmo metal podia apresentar diversas cores, e que vários metais podiam ter a mesma cor!!!... O ouro umas vezes dava verde, outras violeta e em casos ideais um vermelho rubi intenso (estranhamente nao dava amarelo....).
Por estranho que pareça, a cor dos materiais é uma propriedade que varia com a escala, o ouro é amarelo sim, se for muito! porque se for pouco, mesmo pouco, pode ter muitas outras cores...

Uma das peças de vidro mais badaladas neste meio é o copo de Licurgo (Lycurgus cup) exposto no Museu Britânico e que representa, se nao me engano, a morte do rei Licurgo. É um artefacto interessante deixado pelos Romanos: se iluminado por fora tem uma cor verde, mas quando a mesma luz é incidida no seu interior fica vermelho.

O fenómeno pelo qual estas variaçoes acontecem é interessante e apenas medianamente complexo, mas deixemos isso para outra altura e continuemos agora a nossa História até aos tempos actuais.

Hoje é-nos possível, repito, entender e reproduzir estes feitos, melhora-los e usa-los de outras formas que nao apenas o embelezamento e a admiraçao passiva.


Esta foi a minha vista de dentro da camioneta que me leva ao aeroporto para ir para Lisboa.
Podem ver que o vidro da frente é completamente transparente a par que o vidro lateral, do lado direito, tem um tom esverdeado, isto nao é por acaso!
Os vidros da frente devem naturalmente permitir a melhor visibilidade ao conductor e estes nao têm mais ciência que um vidro normal de casa. Os vidros laterais no entanto devem ter outras funçoes, como por exemplo, impedir que os 30 graus que faziam lá fora entrem para dentro do autocarro tornando o ambiente desconfortável e com um gasto de energia em ar condicionado muito superior.
Este vidro tem nanoparticulas de Ferro que impedem a passagem de praticamente todas as radiaçoes infra-vermelhas (responsaveis principais pelo aquecimento).
A nanotecnologia ao serviço da comunidade.

Dito isto (e nao sei bem porque sigo agora por este caminho, mas parece que preciso do desabafo) os estudos dizem que os "jovens" estao cada mais capazes para operar sistemas - ontem disseram-me que eu era a "geraçao iPod"... já me tinham chamado "geraçao Rasca", "geraçao À Rasca", "geraçao Adiada", "geraçao Preservativo" (porque nao criamos icones, usamos e deitamos fora e esperamos a próxima moda), mas "geraçao iPod" foi a primeira vez - mas que no entanto sao muito mais ignorantes sobre a tecnologia que operam - toda a gente sabe brincar com o paint, mas poucos sabem o que fazer se a placa gráfica se estragar.

Já nao é normal encontrar um miúdo que abre a calculadora para ver como funciona, ou que mexe nos filtros do carro... e isto é normal penso eu, as tecnologias evoluíram muito e em direcçoes distintas, e as próprias marcas tentam tornar difícil a sua compreensao (como é que se abre um iPhone? ou se afina o motor de um BMW?...)!

No outro dia um colega de trabalho, mais velho, esteve a explicar-me como é que eu podia aceder, com voz, ao Google no meu telemóvel e há uns meses nao consegui conectar o GPS do carro de aluguer para ir ver um paciente... mas sei que é Ferro que estás ali naquele vidro...

Sou um inadaptado!...

Se calhar é isso, sou da "geraçao dos inadaptados".

20 de junho de 2012

Chili, Saladas e Bacalhau com Natas

Hoje nao me apetecia cozinhar, mas ando assim há vários dias e depois de variar entre pizzas e saladas preparadas achei que era hora de fazer algo em casa!
Queria algo rápido e bom, como diz o outro "bom, bonito e barato" e o que me ocorreu foi fazer chili...
Eu nunca tinha feito chili, nem vi nenhuma receita, mas meti dentro da panela carne picada com uma fritada, que é o que os Espanhois chamam um refogado de tomate, cebola, pimentos e uma ou outra coisa que desconheço (a fritada veio da lata claro...) e um monte de especiarias - entre elas duas malaguetas pequenas... uma delas já trinquei por acidente a meio do jantar e fiquei sem paladar para o resto............. a outra aguarda silenciosa na panela...... - e deixei a cozer, quando a carne estava pronta meti os feijoes vermelhos pré-cozidos, dei uma voltas e voilá! - diriam os Franceses, eu praguejei porque me queimei a servir-me.
O arroz branco foi desses que se poem no micro-ondas dois minutos e ficam feitos (acho que posso fazer concorrência à Nigella Lawson no que toca a cozinha rápida!!! ahah)
Estava bom mas, comer chili - quente e picante - no verao nao me parece uma coisa coerente....
Pensei nisto e achei que se algum Mexicano me ouvisse os pensamentos certamente me chamaria um nome e nao seria só ignorante!


Uma das coisas que me surpreendeu na Finlândia foram os almoços no trabalho.
Em várias ortopedias onde estive os profissionais paravam para comer, uma meia hora normalmente, e voltavam ao trabalho. Era como uma pausa apenas, nao contava sequer como "hora de almoço", o intervalo de tempo entre a entrada e a saida de trabalho eram oito horas, nem mais nem menos.
Além de em si me parecer estranho (ainda que trabalhar só oito horas me pareceu muito agradável) comer assim sem socializar muito; falar alto, comentar o puck (que é como quem diz "comentar a bola"... mas para eles futebol nao é uma coisa muito emocionante), a política, contar anedotas (desculpem a redundância agora!), enfim... comer! o que mais de estranhou foi a comida em si. Como em Portugal, as comidas típicas comem-se algumas vezes, nao se levam todos os dias para o trabalho, e também ali se comia comida normal. A questao eram as proporçoes! Era normal ter um prato cheio de salada com um hamburguer ao lado, ou queijo de ovelha, ou salmao fumado, ou salada no pao, ou com ovo, ou salada com salada... Comiam muita salada com diversas verduras e legumes!
Uma vez os confrontei-os com a realmente de que:
- É que... estao menos 10 graus la fora!! Como é que podem estar a comer algo frio? Se nao é quente nao é almoço, isso é, como muito, um lanche, ou um acompanhamento, nao?
Ao que os Finlandeses calmamente de explicaram o que, para eles, é senso comum:
- Mas Igor, metade do prato deve ser salada!
E eu, como em tantas outras ocasioes, abri a boca para ficar calado.


Muitas vezes, aqui em Espanha, me elogiam enormemente Portugal, e a comida Portuguesa é sempre um brazao do nosso país, toda a gente em Espanha fala bem da comida Portuguesa.
Uma vez em Toledo um comerciante dizia-me (depois de ter pago a saia para a namorada, já nao me estava a dar graxa): A comida em Portugal é uma coisa estranha... É boa, é barata e é muita!; e depois ofereceu-me uns brincos que combinavam com a saia, um senhor simpático...
Mas alguns dos nossos pratos também causam estranheza a alguns Espanhóis (bem... alguns poucos, uma colega de trabalho para ser mais preciso, porque todos os outros que ouvi comentar adoraram, mas a opiniao desta colega resultou-me curiosa).
O Bacalhau com Natas foi-me descrito por uma colega de trabalho como uma guarreria! que é como quem diz um nojo, uma porcalhice. A esta minha colega parecia-lhe muito esquisito que se juntasse no mesmo prato, bacalhau e natas... penso que pensou que seria como juntar pescada com molho bechamel...
Nunca tinha pensado nisto! Vendo bem, nao é uma associaçao directa, como batata frita com bife, mas acho que só demonstra como somos imaginativos os Portugueses! E como juntando duas coisas que parecem nao combinar pode sair uma melhor (fiquei a pensar no atum com o bechamel.... será que.... naaa).


Entre Mexicanos, Finlandeses e Portugueses ninguém se entende no que toca a comida! Menos mal, ou senao podia ser que estariamos todos a comer Balut...

Carros Modernos

Nao sei quanto a voces, mas ainda nao percebi esta nova tendência, esta nova moda, de por rímel nos carros... Sim, parece-me que quanto mais novo (e quanto mais caro!), mais se nota este efeito, por eyeliner nos faróis tornou-se um símbolo de design moderno e luxo...







A unica coisa que eu gostava de dizer aos designers barra engenheiros barra senhores-da-industria automóvel é:
Os carros estao lindissimos, é verdade, a minha namorada fica mesmo muito bem atrás daquele volante!
Também fazem destes para homem?


7 de junho de 2012

Provérbios 21 (e com boa vontade 22, 23 e 24)

Nas últimas semanas, casualmente, tenho ouvido tantos provérbios, expressoes, máximas e adágios que se  nao os escrever acabo por esquecer. Deixo agora um deles, que pelas minhas divagaçoes me traz à memória mais tres...
É que o conhecimento acaba por ser como as promoçoes de supermercado, mesmo quando nao queremos, levamos sempre mais qualquer coisa...

...

O contexto geral era ameno e descontraído como o obrigam as cervejas e as azeitonas, mas a situaçao particular foi ao mesmo tempo tensa e cúmplice entre os presentes.
Dirigia-se um ex-Chefe a um Empregado-antigo, falava-se de muitas coisas: da crise, da economia, das empresas, das novas leis. Falava-se de adaptaçao, falava o ex-Chefe que podia ser chamado também de Chefe-reformado, fica a gosto daqueles que gostam ora mais de prefixos ora mais de sufixos, e apelava à compreensao das medidas, à nao resistencia à mudança tao inerente ao ser humano. O Empregado-antigo mostrava-se reticente, apreensivo e até desanimado com o panorama geral, como se - como todos nós, nao fossemos todos excelentes treinadores do lado de cá da televisao - ele soubesse, pelos largos anos da sua vida, que aquele nao era o caminho, o caminho sabia-o ele melhor que outros, e nao era aquele.
Era um debate de ideias entre aquilo a que se podem chamar dois indivíduos da velha guarda!...
Pensando bem, talvez o término nao seja correcto, ou entao, temos de perceber que a velha guarda é igual à nova guarda, com as mesmas ideias e dúvidas, preconceitos e saberes.

Fico a pensar que se Heráclito tivesse conhecido as guardas talvez se tivesse desanimado e nunca tivesse aportado o seu célebre axioma, afinal, parece que as coisas ficam sempre na mesma...

A dado momento o Chefe expoe ao Empregado como ele mesmo - o Empregado - é um agente criador e fomentador activo destes tempos que critica.
Exposto isto, o silêncio introspetivo foi momentâneo mas geral, confirmando que quem consente cala...
E conclui desta forma o Chefe:

C - Nunca te esqueças E

a funçao do Policia é policiar, e a funçao do Ladrao é fugir.


Que é como quem demonstra que cada macaco nao está só no seu galho, se nao que está também bem situado e definido no seu meio. E se enchermos o galho com o significado acrescido pelos Brasileiros mas nao pelos Portugueses o provérbio fica ainda mais apurado/relacionado. É assim a Língua Portuguesa, cheia de duplicidades!

28 de maio de 2012

Poe os auscultadores... (2)

... e começa a cozinhar


E quando dou por mim acabo de adornar com oregaos a carbonara empratada e disponho o parmesao ao lado para ser servido a gosto. Fico a olhar o prato, a disposiçao dos talheres, o copo, está tudo bem!, e espero, até que de repente me lembro que estive a cozinhar para mim e que mais vale comer porque ninguém mais se vai sentar à mesa... ...
Estava bom, mas nao tao bom como o interlúdio.

26 de maio de 2012

Provérbios 20

Já ha muito tempo que nao escrevo aqui um provérbio.
Devia escrever mais, acabo por esquecer os novos que me vao dizendo. Trabalhar com gente mais velha tem esta vantagem, sabem todos estes ditos.


No outro dia, depois de se lamentar de uma situaçao pessoal verdadeiramente complicada, disse-me um colega em jeito de conclusao necessária:

- Bem Igor, mas...

nao há mal que 100 anos dure,


E assim terminamos a conversa, com esta esperança, nao!, com esta certeza de que existem coisas que só o tempo pode levar, e leva.

Esta sabedoria popular ficar-se-ia bem por aqui, mas como intemporal que é, cobre todos os cenários e para alertar os mais esperançados acrescenta - como acrescentou o meu colega, olhando para o chao, mais de si para si:

nem corpo que o aguente!

22 de maio de 2012

Olhos em bico

Hoje tive o privilégio de almoçar com vista para a Sagrada Familia.
Comi num desses restaurantes ocasionais, turístico e italiano, que os há por todas as partes. Fui atendido por um empregado indiano que, claro, me falou num Espanhol perfeito. A massa penne al pesto estava boa.

O sítio, vendo bem, parece ter propiciado desta forma a conversa que se manteve ao almoço com o Argentino que comia o seu calzone, nao me recordo de quê.

Entre outras coisas falavamos das diferenças culturais entre tantos países de tantos sítios.
Comentava eu o episódio engraçado em que me apercebi que o regime militar na Finlândia era obrigatório:

Dizia-me o Finlandes:
Nao, aqui nao é profissional, o regime é obrigatório, tens 3 opçoes: ou vais à tropa, ou fazes serviço comunitário, numa biblioteca ou creche ou algo - que é pago como a tropa claro, o importante é que sintas que fizeste algo pelo teu país - ou entao vais para a prisao! Tens de escolher um dos 3! - e ria-se - Entao mas voces aqui com uma sociedade tao evoluida ainda têm o serviço obrigatório? Nao percebo.- e com um ar de reflexao concluiu após uns segundos - Hum, pois... mas vocês ao lado só têm Espanha. Nós aqui ao lado temos a Rússia! - e eu, conhecendo a sua História, calei-me.

Comentava mais tarde o Argentino:
A mim comentaram-me uma vez que depois de trazer algumas crianças nómadas que viviam no Sahara para a Europa, ao depararem-se com escadas subiam-nas em "quatro patas"! Nunca tinham visto escadas e achavam ser a maneira mais coerente das subir. Em duas pernas "nao dava jeito"!


Lembrava-me eu:
Ah sim, uma vez vi um documentário onde a Julia Roberts passava uma temporada com uma família nómada na Mongólia. A dado momento ela pisca o olho a um dos miudos por alguma travessura e ele fica fascinado pela "extraordinária" capacidade! Desde esse momento andavam detrás dela a pedir que piscasse os olhos um de cada vez porque achavam aquilo muito engraçado! Uma das últimas imagens do documentário é quando ela se vai embora e já no carro, ao despedirem-se - se é que me estou a lembrar bem -, os miudos ao verem-na ir, com o indicador baixam uma pálpebra para assim "piscarem" um olho também! Foi muito engraçado


E ele acrescentou aquela que foi a história mais engraçada e com a qual, quer pela forma como a contou quer pela imaginação da cena, nos rimos até quase às lagrimas:
Falando nos olhos, tive um amigo que foi ao Japao e a dado momento ve um grupo de crianças que olhavam para ele e se riam todas entre elas. Quando aquela cena havia demorado alguns instantes uma aventura-se a chegar perto dele com uma gargalhada de gozo - tal qual as nossas crianças que fazem "nanananaaa" quando nos fazem caretas; porque afinal, como sabemos, as crianças falam todas a mesma língua, aqui ou no Japao - e com esta cara e som de gozo, com os dedos indicadores e polegares nas sobrancelhas e bochechas respectivamente abriam muito os olhos "como um nao-Asiático". Feito isto desataram todos a correr e a rir pela travessura!!!


E dito isto rimos bastante!
Na Europa puxamos as missuras para ficar com os olhos em bico e contamos anedotas, na Ásia puxam as pálpebras para ficar com os olhos em redondo! e  riem-se de nós.

Realmente, quao estranhos, e engraçados, somos os humanos!

20 de maio de 2012

Poe os auscultadores...

... e começa a estudar



E quando dou por mim nao jantei e é hora de ir dormir, sorte que há sempre pizza no congelador! Foi um bom dia de estudo...

16 de maio de 2012

Quando a obra é maior que o autor

Às vezes, quando leio algum livro e ele me toca de alguma maneira especial, de alguma maneira pessoal e intima, ou quando me abala ou reforça as crenças e convicçoes, às vezes eu pergunto-me: Será o autor consciente do que me fez viver?

Diferentes vezes o pensei com admiraçao, com vontade de lhe escrever e agradecer, outras com crítica, ao ler dados que sei errados e que influenciarao outros menos informados e dá-me vontade de escrever e pedir-lhe responsabilidade (e a verdade é que já fiz, várias vezes, ambas coisas).

O livro, a escrita, parece-me tao íntima. O que escrevi atrás valeria para qualquer arte, como a pintura ou a música (ai se os meus professores do Conservatório me ouvissem agora...), mas parece-me a mim, que o acto de pegar num livro e sozinho admirar o seu conteúdo é a forma mais completa que alguém, o autor, tem de transmitir / provocar, um sentimento, uma ideia ou um ideal a outro, o leitor.


Digo-o em verdade que este blog tem objectivos modestos.
Nao se pretende abalar a consciência de ninguém durante mais que o tempo que medeia o título do post e as letras azuis que raramente mostram diferente de "0 comentários"!
Se algum tema pode merecer mais reflexao, porque em alguma medida interessa a quem o leu, seguramente nao será complexo o suficiente para que um café e um pastel de nata num café calmo nao tragam a soluçao.
E nem este blog pretende mudar o destino da naçao...


De qualquer forma, nao posso evitar parar e reflectir uns segundos quando por curiosidade vejo as estatísticas e observo que esta semana houve, por exemplo, quase o triplo e visitas de leitores do Brasil que de Portugal.
Se vejo as de hoje, o melhor, as de "Agora", vejo que além de mim em Espanha, tres pessoas estao do outro lado do Atlântico, unidas pelo mar e pela língua, com esta página aberta, e penso: Que estarao a ler? Em que estarao a pensar?
Fico contente que tenham chegado aqui, fico curioso também!

Sejam bem-vindos... os 3 e todos os outros, Portugueses, Brasileiros e todos os outros que veem cá parar, por engano ou nao - nao tinha pensado nisso quando o criei, mas ter um título para o blog em Inglês faz com que de vez enquando tenha visitas da Holanda, EUA, Canada, etc, nao sendo de todo significativas mostram que noutros países o que acontece by the end of the day nao é muito importante!.

Sejam bem-vindos!

8 de maio de 2012

Ter a mania que se é esperto

Almoçavamos numa mesa redonda. Eu tinha do meu lado esquerdo o Alemao, do direito o Espanhol, ao lado do Alemao estava o Catalao e ao lado dele as duas Médicas, ao lado o meu Chefe e ao lado dele o Argentino, ao lado do Argentino estava o Espanhol.

Falava-se de temas triviais, futebol, politica e a Europa.
Muita coisa sobre a Europa... e estavamos na parte da alimentaçao, ou o controlo alimentar melhor dito.
Falava-se de um queijo frances, típico de uma zona dessa terra e conhecido mundialmente pelo processo de fabrico e, consequentemente, pela iguaria, requinte e paladar que tem. Parece que nao contentes com os fungos naturais neste processo, uma camada de uns fungos especiais é adicionada ao processo de fermentaçao dando uma capa caracteristica exterior ao queijo. Mas, este post nao é sobre o queijo pelo que sobre ele nao investiguei muito, além de que a conversa também derivou rapidamente na que se segue:

Sobre este queijo queixava-se o Alemao, que apesar de calvo é jovem, que isto de ser chefe tem os seus aspectos negativos, como o stress, que era inadmissivel que só porque alguém com um diploma qualquer assim decidiu, a UE proibiu a sua produçao por nao respeitar regras de higiene e segurança alimentar.
"Ora se as pessoas sempre comeram do raio do queijo, porque é que agora se lembram do proibir?" Argumentava.

Nisto entra o Catalao, que apesar de ter cabelo tem uma idade bastante avançada e reforça:
"Olha, é como o leite! No outro dia disseram-me que eu nao devia beber leite, que me fazia mal.."

E nisto IA entrar eu, e ia dizer algo como:
"Pois mas realmente tem sentido, já viu que somos a unica especie animal que bebe leite depois de ter a dentiçao completa? Em adulto digo... Ou que somos o unico mamifero que bebe leite de outras especies... Já pensou o que era uma Girafa a beber leite de um Golfinho? Entao porque bebemos nós leite até tao tarde e além disso de Vaca? Pelo calcio nao será porque os legumes e outros alimentos têm calcio que sobra, além de que o nosso corpo absorve e excreta o calcio que precisa ou nao precisa e demasiado calcio pode fazer tanto mal como demasiado sal (sodio)!"

Tudo isto ia eu dizer, mas o Catalao nao me deixou porque continuou a falar:
"Entao quer dizer... o meu avô bebeu leite... o meu pai bebeu leite... e viveram os dois até depois dos 90 anos, com a saude que cabe! Entao e eu vou deixar de beber leite agora? Acho que nao!" E eu mative-me calado.

Ora bem... contra factos nao há argumentos! Assim me foi ensinado. E por muito que se pudesse debater sobre isto e o outro a verdade é que a estes senhores o leite parece nao ter afectado nem a longevidade nem a saúde (talvez a outros terá dirao alguns, mas nao estraguemos agora a narrativa com detalhes peculiares), por isso bem que podem vir os "espertos com diploma" como eu, com as nossas teorias e pressupostos "inteligentes e lógicos" que bem podemos calar-nos e ouvir, porque somos capazes de fazer melhor figura, afinal, é importante ser-se pragmático!

Bom, eu gosto bastante de chá, mas  bebo leite com regularidade, se calhar devia beber mais, parece que previne a calvice!

25 de abril de 2012

A Pos-Graduaçao em Oxford e o Operador Telefónico da Vodafone

Desde que comecei a pós-graduaçao que me perguntam várias vezes "como é estudar em Oxford?", ou "que diferenças vês no ensino?" ou perguntas parecidas.

A primeira diferença é, com certeza, o preço! Barato nao é, e pagando em libras menos ainda... é uma diferença importante que, no entanto, foi a que me fez ousar a candidatura.
Lembro-me de uma conversa com um amigo que se doutorou em Cambridge, falavamos da continuaçao dos meus estudos e enquanto nessa altura essas universidades ainda me pareciam inalcansaveis ele dizia-me que: se tinha o dinheiro para poder pagar ou o contexto para aceder a uma bolsa, para me candidatar: "Candidata-te, vais ver que entras!" E entrei!
Na cabeça punha uma barreira que nao existia e nao via sequer outras que apesar de terem de ser ultrapassadas eram mais pequenas.

Desta diferença normalmente nao falo, mencionei-a aqui apenas para também eu reforçar o cliché verdadeiro de que nao há maior barreira que aquela que nos impo-mos a nós mesmos e que tentando (atençao que aqui mudo a banalidade e escrevo tentando e nao acreditando) os sonhos tornam-se realidade.

As verdadeiras diferenças que vejo no ensino em Oxford, em comparaçao com aquele que conheço em Portugal, sao duas: o sentido practico e útil dos trabalhos e ensino e a consciência económica dos mercados.

Os meus primeiros trabalhos foram 1 a revisao e melhoria de um artigo da Wikipedia e 2 uma carta ao Ministro da Economia de Portugal sobre várias questoes importantes que emergem com o surgimento e desenvolvimento da Nanotecnologia no nosso país (quando terminar a PG e tiver tempo para traduzir a carta do Inglês envio-lha). Como Cientista tenho de ter a consciência de ser pro-activo com a sociedade e participar na sua educaçao e desenvolvimento. Longe vao os trabalhos que se escrevem, faz-me um powerpoint com umas animaçoes giras e deixa-se arrumado numa pasta que se perde pelo computador, nao, aqui ninguém trabalha para aquecer, tem de haver um outcome real e prático além do conhecimento adquirido.

Depois, isto da Ciência e da busca do conhecimento é muito bonito, mas se nao gerar riqueza nao é muito útil para a economia e consequentemente para o país.
Se calhar, estudar a correlaçao entre a ingestao de amendoins e o crescimento das unhas dos pés nao é muito útil (a menos que possuam uma plantaçao de amendoins, aí talvez!), mas mesmo que se queira demonstrar uma nova tecnica para a produçao de átomos artificiais para aplicaçoes electrónicas é preciso entender que mercado vai ser abrangido, que utilidades vai ter essa investigaçao, que postos de trabalho pode gerar, que crescimento económico pode permitir.
Entender que as ideias têm um valor que deve ser comercializado, que os custos devem ser racionados, que a inovaçao é o unico caminho para o crescimento sustentado é uma nota presente em todos os trabalhos que faço.

Estas sao as duas principais diferenças que encontro.

Outra, possivelmente obvia mas dificil de explicar sem se viver, é a exigência!
Tem sido uma liçao de humildade, eu vinha habituado a ter boas notas, a entender tudo o que estudava, a ser inteligente... Pois nada disto acontece mais, nao tenho boas notas (apesar de em minha defesa alegar que 1 trabalho mais de 8h por dia 5 dias por semana e depois disso venho estudar e 2 fomos repetidas vezes avisados que notas acima de 75% sao muito muito raras e representam Excelência), nao entendo tudo por muito que estude e sinto-me realmente muito ignorante quando estou em conversa com alguns dos meu professores, que por sinal, trato pelo primeiro nome: "Ola Pete, tudo bem?".

Por este motivo acho que sou uma pessoa muito mais exigente comigo mesmo e com os outros.
Mais do que o que aprendo sobre Nanotecnologia, aprendo como cidadao e em como ser bom nao chega, é preciso ser, pelo menos, muito bom! Nao falo de inteligencia ou capacidades extraordinárias, falo de trabalho, de vontade, de dedicaçao... estes sao valores que quando sao bons ainda sao pouco, nestes devemos tentar ser excelentes, e nao é fácil, nao é nada fácil!

(E o Operador Telefónico?)

Outro aspecto sobre a minha forma de ser e agir é que eu tenho um grave problema de falta de memória, quem me conhece sabe que é verdade, eu tento corrigir mas já nao é defeito, é feitio, ou pelo menos assim o tento justificar quando me esqueço dos anos de amigos, ou de comprar o pao.
Mas eu tento combater este problema (sim eu já passei a primeira fase e já o admiti como problema, a segunda é que está a ser mais dificil), e uma das coisas que faço para exercitar a mente (apesar de nao ter muito claro se é verdade que se exercita destas formas) é ter códigos pin, multibanco, palavras-chave e afins diferentes em tudo o que é sitio de ter estas coisas. Motivado por questoes de segurança, naturalmente, nao cedo ao comodismo e como forma de aliviar a culpa de alguns esquecimentos (e quizá exercitar mesmo a mente) obrigo-me a decorar todos estes numeros, caracteres e letras.

O problema está, por exemplo, quando me esqueço do pin de um dos telemóveis... como aconteceu da ultima vez que fui a Portugal e descendo do aviao com pressa... bloqueei o telemovel... e se para saber o pin é dificil, imaginem o puk! Uma nota interessante (e mais deprimente...) é que já uma vez me tinha esquecido deste pin, mas a esforço  nessa altura lá o relembrei, desde entao mudei-o para igualar a outro código, reduzindo a quantidade de códigos que tenho na cabeça, mas esqueci-me também deste novo que escrevo igualmente noutras circunstâncias...

Tive de ligar para a Vodafone para ver se me podiam dizer o puk.
Já uma vez tinha ligado porque à minha avózinha lhe tinha passado o mesmo ( masela tem quase 70 desculpas para isso, eu nao!) e já conhecia o procedimento, dizer o pin original, se nao soubesse dar outros dados como o nome do portador e a data e valor dos ultimos carregamentos (como é que eu me lembro disto???). Ia preparado para a segunda opçao claro!

Atende-me um rapaz bastante simpático, explico-lhe o que me aconteceu e ele pergunta-me o pin inicial do cartao, ao que eu respondo automáticamente depois de segundo e meio de hesitaçao 3272!
"Exactamente Sr. Igor, tem sitio para anotar o puk?"

Ãh???!!!

Mas como é que eu sei isto? Que raio de cérebro é este que gosta de me pregar partidas estranhas?

O rapaz ainda me disse que podia aceder a esta informaçao no site se quisesse, que da próxima nao precisava ligar e confirmou-me que a chamada era cobrada. Despediu-se pedindo que respondesse a duas perguntas rápidas, agradeceu em nome da companhia o contacto e passou-me a chamada à voz feminina impessoal:

"O seu problema foi resolvido? Responda Sim ou Nao!"
-Sim

"Com base na qualidade desta chamada recomendaria a Vodafone aos  seus amigos e familiares?"
Tinha de classificar de 0 a 10 e aqui hesitei uns 2 ou 3 segundos. Neste tempo pensei nas estatisticas que iam ser apresentadas seguramente na televisao, em como eu nao recomendo um operador telefónico baseado numa chamada e em como a chamada me tinha custado dinheiro (acho bem que se cobre por causa dos engraçadinhos, mas antigamente a Vodafone devolvia o dinheiro se a causa fosse verdadeira).
Com a pressa de terminar a chamada que outras coisas mais interessantes esperam sempre (ainda que raramente saibamos de quê ou para quê temos pressa, como é o caso se o penso agora) carreguei no 6 e desliguei a chamada.

"Tu deste-lhe SEIS???" disse indignada a minha namorada que estava encostada no meu peito e ouviu a conversa!
"Entao!?"
"Ele foi super simpático, resolveu-te o problema em meio minuto e das-lhe 6??"

E teve a meia hora seguinte a dar-me na cabeça!... Para isto servem as namoradas!!

Tentei justificar que estava a avaliar a Vodafone nao o rapaz, que a partir de 1 "já recomendaria qualquer coisita", 5 era bom e 6 já era um nota realmente positiva! Mas no fundo... ela tinha razao, ou pelo menos convenceu-me disso (nao é isso que fazem as namoradas!!!).

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Realmente, vejo que sou uma pessoa muito mais exigente com os serviços que uso, com as pessoas com quem trabalho e comigo mesmo, porque vejo que posso ser/dar mais se assim for exigido.
De qualquer forma, o exigido foi cumprido, e o rapaz merecia à vontade, e pelos mesmos critérios, um 7 e bem disposto um 8 (acho que para a namorada nao vai ser suficiente, mas já me dirá!)

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Depois de escrever, reler e pensar sobre este post vejo que é importante para mim porque de uma vez só solucionei várias questoes:

Primeiro a minha necessidade de expor o que penso (para dize-lo com palavras bonitas).
A minha mae diz que o meu pai devia ter ido para Padre pelos sermoes (ideológicos) que gosta de dar e eu acho que lhe segui a genética ou o hábito...

Segundo alivio a minha consciência karmica, conceito em que nao acredito mas valorizo (isto é possível?).

e Terceiro resolvo as coisas com a namorada que agora, só para gozar comigo, me tem feito sentir mal pela nota que dei ao rapaz.
É uma querida e é por estas coisas que eu, no fundo e à superficie, gosto muito dela! (estou a ser irónico? Nao! Mas nem Oxford é tao exigente comigo como ela! E eu adoro estudar em Oxford...)

22 de março de 2012

Enquanto as horas vespertinas passavam

Enquanto as horas vespertinas passavam, os amantes despertavam do leve sono que as poucas horas dormidas lhes permitiram. Da janela viam-se águas plácidas e escurecidas pela ausência do Sol nascente, o comboio atravessava a ponte que os deixaria na ilha artificial criada séculos atrás por motivos misteriosos, ainda que a indigência e segurança sejam apontados como necessidades que assim o justificaram.

Ainda dentro da máquina a atmosfera pareceu mudar, como se o breu que apenas se deixava ver pela luz ténue da presente Lua Cheia fosse entrando pelas fissuras e entrecortes das chapas metálicas desta moçao solitária.

Chegados ao destino foram recebimos por madrugadores habitantes: várias gaivotas estridentes, que se ensinuavam como se denunciando delatores do tempo, a nossa hora de ocupar a cidade ainda nao tinha chegado diriam se as podessemos entender.

Tudo aqui era diferente!

Como se o espaço fosse outro e o tempo espesso.
Seria um espaço pestilento, ainda que o odor esperado nunca tivesse surgido, era um espaço pegajoso, como se o ar se pegasse à pele e às narinas invadindo-nos a cidade pelas entranhas!

Nao havia como fugir a esta atmosfera que nos engloba e traga.

O dia tardaria ainda em nascer mas os primeiros sinais de que era eminente foram os atletas madrugadores que aqui e ali apareciam e desapareciam por capilares sinuosos.

Com a percepçao toldada pelo sono ainda presente e lojas turisticas e tascas locais fechadas com graffitis a guardar as portas esta parecia uma cidade abandonada.

"Chegámos tarde!" Podia-se haver pensado! O efeito da hora tardia sempre foi dificil de separar do da hora prematura.

À medida que a cidade despertava e a actividade humana a aquecia a atmosfera que a sustinha neste limbo imaterial era mascarada, justificando, quem sabe, o tradicional tema desta localidade.

A Luz nascia, o locais surgiam, os visitantes também, a cidade despertava e os lampioes enublados adormeciam.

Tudo aqui era diferente!

A insistência do sono obrigou a uma sesta matinal. Enquanto ela dormia aninhada no colo dele, ele, conhecido das insónias, observava o pequeno largo onde pararam.
Sitio de pouco movimento casual era frequentado apenas por necessidade rotineira e entregas ritmadas dos transportadores dos pequenos carros do lixo - Que sistema curioso! - pensava enquanto observava as cargas e descargas destes carrinhos-de-mao adaptados.

O almoço da manha foi o bolo tradicional da regiao, ou pelo menos assim o chama o único pasteleiro que o fazia em toda a "regiao" - Fui eu que o inventei!" dizia. "Terás sido tu que o nomeou também!" pensavam.
Uma espécie de pao doce de pistachio que condizia em tudo, de facto, com a cidade. Com um interior verde pantano, tinha um sabor estranho que rapidamente se diluía num doce característico. Merecia o título!

Passearam pelas ruas e vielas, atravessaram canais e tiraram fotografias.
Como de costume, a idade nao se lhes passa e viviam o romance como desde o primeiro dia, mais que o primeiro dia, porque agora é sustentado por uma cumplicidade de olhares eloquentes e gestos indecifraveis. E aqui, nesta cidade reconhecidamente romântica, quer pela sua peculiaridade quer pelas suas tradiçoes e mistério o romance foi a nota que os distraiu do cansaço.

Viram igrejas douradas e subiram a torres, entraram em lojas e comeram gelados, comeram pizzas e compraram peças de vidro tradicionais.

A meio da tarde, enquanto sentados na margem de um canal admirando por um lado os transportes, por outro as esplanadas ela surpreende-se: - Viste algum carro? - nao, nao tinham visto nenhum carro durante todo o dia. A consciência de algo tao elementar e, naquele contexto tao obvio, fe-los parar de novo e pensar "Realmente, aqui só existem barcos!". Tinham visto barcos-do-lixo, barcos-ambulância, barcos-taxi, barcos-barcos, barcos-autocarro todo o tipo de barcos, nenhum carro, parado ou em movimento.

Tudo aqui era diferente!

Restabelecidas as forças e as ansias retomaram caminho, passada a novidade repetiram ruas, admiraram a paisagem com a calma do habitual e descobriram outros detalhes. Voltaram para trás e de novo para a frente. Era uma cidade labirintica onde se poderiam demorar semanas a percorrer todas as suas tranças retorcidas e estreitas, mas que num dia determinado se podem ver e conhecer os dois lados da transitada ponte Rialto.

O dia chegava ao fim, era tempo de voltar ao lado continental e a estranhamente primeira viagem de barco, e última desse dia, que substituiria o comboio nao se deixaria esperar.

Com estacas a fazer as vezes de traços descontinuos nestas águas baixas, assim eram marcadas estas auto-estradas marítimas.

Comeram pizza e beberam chardonnay blanc, para sobremesa, caipirinha, ou deve dizer-se para digestivo? existem sempre tantos nomes para as melhores partes de um todo! Nada mais podia ser estranho, o local justificava a comida, o romance o vinho e o tema do dia a sobremesa.

Há noite, sentados num tronco que balançava nos calços desequilibrados e com os pés na relva tremiam de frio, mas viam ao longe: os lampioes neblosos haviam despertado e marcavam um mural indistinto no horizonte.

Desta muralha negra pela ausência de luz saltavam e assobiavam fogos de artifício como que vindos da própria linha do horizonte. Celebrava-se o Ferragosto.

Assim termirnou o dia de registo, a continuaçao fica nas memórias privadas.

Foi tudo tão diferente!
Voltarao!

12 de fevereiro de 2012

Fechado para obras

Fechado para obras até meados de Junho!
Motivo: o efeito tunel, o superparamagnetismo, os nanotubos, o mean free path, o gato de Schrodringer e outros têm de ser entendidos!
Procuraremos ser breves, pedimos desculpa pelo incomodo...

27 de janeiro de 2012

Honour Among Thieves

Vinha do trabalho no autocarro, como de costume, a ler.

Lia um artigo interessante sobre tecnicas de coloraçao de vidro com nanoparticulas.
O primeiro contacto que tive com o mundo do vidro e da arte de o produzir foi em Veneza, com o vidro de Murano, e desde entao que fui percebendo como é uma arte secular cuja mestria vem sendo aperfeiçoada e a pesquisa e saber são profundos e misteriosos.

Normalmente, quando viajo de autocarro aproveito para ler/trabalhar - como adenda desenvolvo ainda que... além de seres mais ecologicos e mais economicos, o tempo que se ganha usando estes transportes é enorme: no pouco mais de 30m minutos que demora a viagem até à paragem há porta do trabalho eu estudo bastante, na viagem de volta também, é mais de uma hora de estudo por dia que se fosse a conduzir nao tinha... nao entendo, nem concordo, com a chamada "comodidade" do carro, é só um a parte... - e o sitio onde me sento é importante.

Lembro-me de alguém de dizer quando era pequeno que nao gostava de ir na parte de trás da camioneta porque com os amortecedores subia-se e descia-se muito e ficava-se mal-disposto, cresci com esta crença até me aperceber certo dia que enjoava (se lia) mais na metade da frente do autocarro.
As curvas na parte da frente do autocarro sao mais abertas, na parte de tras, que "segue" a da frente, nao curva tanto e por isso é mais facil ir lendo sem problemas.
Por este motivo sento-me agora  mais atrás.

Se antes me sentava atrás do banco reservado a incapacitados e idosos e isso me valeu ouvir uma serie de conversas engraçadas entre velhotes, agora sento-me no banco à frente da ultima fila da parte de trás e ouço conversas de miudos (sou um cuscuvilheiro). Bem, nao é verdade que ouça muito, como disse vou a ler, mas a meio da viagem de hoje acabou-se o artigo e dois rapazes que nao faziam questao de nao serem ouvidos estavam sentados ora atras de mim, um, ora nos bancos do lado outro.

Eram dois miudos, deviam ter 16/17 anos, calças de ganga, casaco de carapuço que nao sai da cabeça, fosse verao e teriam os oculos de sol postos, cabelo rapado, brincos na orelha, sotaque de rua e vocabulário a condizer pés em cima dos bancos vazios.
Dizia A para B (o terceiro personagem vai ser CC); e nao vou traduzir literalmente, o Portugues nao tem sequer tanta asneira para ser traduzida, alias, eu tenho a teoria de que os Espanhois nao têm asneiras no vocabulario, porque para eles quase nada é asneira, pode-se dizer tudo, mas ainda assim conseguem ser pródigos e muito criativos quando lhes toca praguejar:

A - Meu, bora sair.
B - Men nao posso, tou sem guito.
A - Bora la meu, vamos para casa de alguém, compramos umas birras e fazemos a festa.
B - Epa estou mesmo sem cheta pa, nao tenho dinheiro, nem tabaco nem nada (vao substituindo ou acrescentando varias asneiras, este "nada" por exemplo, nao era um "nada", mas aquilo a que se chamava antigamente ao topo do mastro principal dos barcos, "o car***").

...

A - Epa nem sabes o que me aconteceu no outro dia!!!
B - Entao?
A - Entao nao é que estou à janela do meu quarto e vejo um gajo (aqui passou, literalmente, 1 ou 2 minutos a insultar este indivíduo) a passar com a minha bicicleta, a que me tinham roubado!
B - A serio?!!
A - Sim meu. Ouve, desci logo com um bastao na mao, fui ter com o gajo (aqui descreveu a conversa onde lhe chamou tudo menos santo) e meu, ia-o matando, e o gajo ainda me diz "Epa nao te ponhas assim, tem calma", tem calma??? (novo jorro de insultos) eu matava o gajo, nem pintou a bike nem nada o otário (nao foi "otário" que lhe chamou).
B - Eina, ca ganda cena...
A - Ia meu... por uma bike que nem 30€ custou, mas nao interessa... é minha.
B - Ia meu, é tua...
A - Eu até conhecia o gajo de vista... era o... o... epa o nome dele era C qualquer coisa... C.
B - CC?
A - IA, ia... era esse mesmo!
B - Eina esse gajo é meu colega!!!
A - A sério??
B - Sim meu... é um gajo bacano.
A - Pa pode ser bacano mas nao tinha razao meu. - num tom de aquiescência mais calma mas pedindo concordância.
B - Ia ia meu, se nao tinha razao nao tinha razao.
A - Ia, bolas (ele nao disse "bolas").
B - Ia meu, sao cenas que acontecem.
A - Pa ia...

Eu nao sei se estao a perceber o diálogo... é dificil pela ausência de tons e volumes, e pelo vocabulario em si que nao recordo ou nao se traduz, mas no final, ambos concordavam que era uma coisa "normal", ou seja, podia acontecer a qualquer um! Quer dizer... roubar uma bicicleta e ter o azar de se encontrar com o dono (só a mim é que isso nao me acontece...) é uma chatice realmente... e pronto, nesse caso uma pessoa só tem de dar o braço a torcer e admitir que "nao tem razao", é como ser apanhado a por o dedo na tarte de maça que estava na janela estao a ver a traquinice? Realmente, raios partam, que chatice. (parece que estou a ouvir o Markl a dizer esta frase!!!).

Afinal, o problema deste mundo é levarmos as coisas demasiado a sério! (ou nao, ou nao)

24 de janeiro de 2012

Identificam-se?

(PGd 2º Módulo)

22:20...
Computador, Pijama e Café... ou eu percebo isto a bem ou vou perceber a mal...

13 de janeiro de 2012

Males que veem por bem

(Ou procurar o outro lado da coisa)

Desde Domingo passado que estou sem agua quente em casa! É verdade!
Uma resistencia qualquer pifou no esquentador e a água agora chega a uma modesta temperatura tépida...

Claro que o tentei arranjar o mais cedo possível: falei com o dono da casa que tentou logo soluciona-lo, mas 2f o técnico nao podia vir (que foi quando se lhe ligou), 3f eu estive todo o dia nas Asturias com um paciente, 4f vieram uns Tecnicos que entraram em casa, olharam para aquilo e disseram "Isto nao tem arranjo, tem de por um novo, vamos enviar um orçamento e vimos montar quando nos disserem"... 5f vinha outro tecnico mas ia encontrar-me com um colega de Oxford e nao podia estar em casa... no fim nem nos encontramos nem veio cá o Tecnico, hoje veio o Tecnico que nao veio na quinta para dizer que o que se estragou foi só a resistencia, há que por uma nova, mas que àquela hora a loja para as comprar estava já fechada, pelo que agora só 2f! ...

Aiiiiiii!

(menos mal que vou passar o fim de semana a Portugal)

Apesar de ainda nao ter chovido em Madrid (nem nevado....) as temperaturas como podem imaginar estao baixas e nao é agradavel! Mas... há que olhar sempre para oS aspectoS positivoS:

Neste momento estou a adiar o banho para continuar a estudar, costuma ser ao contrário, o banho é sempre uma interrupçao bem vinda, mas o estudo parece-me tao agradavel neste momento... (nao apetece nada ir tomar banho...)

Mas como tem de ser e tem mesmo de ser (risos), vou entao para uma sessao intensiva de flexoes, abdominais e outros exercicios para aquecer ao ponto de suar e entrar no banho de agua agradavelmente fria.

Pois é...

...banhos de agua fria meus amigos... o melhor truque para solucionar a falta de vontade de estudar e de fazer exercicio...

(Ai)