6 de março de 2011

O Porteiro da Lei em "O Processo" de Kafka

Gosto de ler bons livros e acabo por nao arriscar muito e ler aqueles que sei que - em princípio - nao me vao desiludir (apesar de ter descoberto um dos melhores livros que já li arriscando).

Terminei agora O Processo do Kafka, e como todos os livros dele... acabei do ler e fiquei desconcertado!

Gostava de estudar estes livros, porque sei que o meu entendimento da sua genialidade é muito limitado.
Isto eu sei, mas de sabe-lo a senti-lo vai uma grande diferença... no fim do livro, um Padre conta uma ilusao a Josef K. (personagem principal). À medida que fui lendo ia pensado (nao pela primeira vez): "Realmente, como gostava de escrever assim!", percebe-se realmente a simplicidade, a genialidade e a alegoria no conto... ou pensa-se que se percebe... porque no fim, os dois discutem as suas interpretaçoes do conto e aí sim... percebo que sou realmente muito ignorante e que a minha capacidade de entender estes escritores ainda está muito limitada... fazem realmente parte dos imortais!
A ilusao deixo-a aqui transcrita - acho que o sr. Kafka nao se importa -, as interpretaçoes quer do Padre quer do K. ficam para quem quiser ler o livro.

Em frente da Lei está um porteiro; um homem que vem do campo acerca-se dele e pede-lhe que lhe deixe entrar na Lei. O porteiro porém, responde que nesse momento nao pode deixá-lo entrar. O homem medita e pergunta entao se mais tarde terá autorizaçao para entrar. "É possível" responde o porteiro "mas agora nao pode ser". Como o portao que dá acesso à Lei está, como sempre, aberto, e o porteiro se afasta um pouco para o lado, o homem inclina-se a fim de olhar para o interior. Assim que o porteiro repara nisso diz-lhe, rindo-se: "se te sentes tao atraído, procura entrar a despeito da minha proibiçao. Todavia, repara: sou forte e nao passo do mais ínfimo dos porteiros. De sala para sala, porém, há outros porteiros, cada um deles mais fortes que o anterior. Até o aspecto do terceiro guarda é para mim insuportável". O homem do campo nao esperava encontrar tais dificuldades; "A Lei devia ser sempre acessível a toda a gente", pensa ele; porém, ao observar melhor o porteiro envolto no sei capote de peles, o seu grande nariz afilado, a longa barba rala e negra à moda tártara, acha que é melhor esperar até lhe darem autorizaçao para entrar. O porteiro dá-lhe um escabelo e diz-lhe que se sente ao lado da porta. Durante anos ele permanece sentado. Faz numerosas tentativas de ser admitido e fatiga o porteiro com os seus pedidos. Aquele, de vez em quando,  faz-lhe perguntas sobre a sua terra e sobre muitas outras coisas mas de uma maneira indiferente, como fazem os grandes senhores, e no fim diz-lhe sempre que ainda nao pode deixa-lo entrar. O homem, que proveu de amplos meios para a sua viagem, emprega tudo, por mais valioso, para subornar o porteiro. Este, com efeito, aceita tudo, mas diz: "só aceito o que me dás para que nao julgues que descuraste alguma coisa". Durante todos aqueles longos anos o homem olha quase ininterruptamente para o porteiro. Esquece-se dos outros porteiros; parece-lhe que o primeiro é o único obstáculo que se opoe à sua entrada na Lei. Amaldiçoa em voz alta o infeliz acaso dos primeiros anos; mais tarde, à medida que envelhece, já nao faz outra coisa que nao resmungar. Torna-se acriançado e, como durante anos a fio estudou o porteiro, acaba também por conhecer as pulgas da gola do seu capote; assim, pede-lhes que o ajudem a modificar a atitude do porteiro. Por fim, a sua vista torna-se tao fraca que já nem sabe se escurece realmente à sua volta ou se é apenas ilusao dos seus olhos. Agora, porém, lobriga, no escuro, um fulgor que, inextinguível, brilha através da porta da Lei. Mas ele já nao tem muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências porque que passara durante este tempo convergem para uma pergunta que, até essa altura, nao formulara. Faz um sinal ao porteiro para que se aproxime, pois o entorpecimento que o domina já nao o deixa levantar-se. O porteiro tem de curvar-se profundamente, visto que a diferença de alturas se modificara bastante. "Que queres tu ainda saber?", pergunta o porteiro, "És insaciável". "Se todos aspiram a conhecer a Lei" , diz o homem, "como se explica que durante estes anos todos ninguém, a nao se eu, pedisse para entrar?" O porteiro reconhece que o homem já está perto do fim e, para alcançar o seu ouvido moribundo, berra: "Aqui, ninguém, a nao ser tu, podia entrar, pois esta entrada era apenas destinada a ti. Agora vou-me embora e fecho-a."


Gostava de escrever um livro - vários aliás - ler estes (des)motiva-me!

Mas bem... agora estou indeciso, tenho aqui 3 para ler:

Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago
O Idiota - Fiódor Dostoiévski
Six Thinking Hats - Edward de Bono

Que me aconselham? Nao sei mesmo, por motivos diversos quero ler ora um ora outros!

4 comentários:

  1. agora vais ter de me emprestar o livro, quero ler mais =)

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  2. Levo-o da proxima ;) mas vais-me ficar com ele como com todos os outros? ;P

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  3. sim vou xD assim quando quiseres saber dos teus livros sabes sp onde tao =)

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