2 de julho de 2011

Mujeres Divinas

Ter vivido cerca de 2 meses com um Colombiano foi uma das experiências que mais me enriqueceu até hoje.

Noutras circunstâncias escreverei mais sobre ele, e sobre como passamos esses meses.

Hoje - como em vários dias - lembrei-me dele, sem uma razao aparente, como aqueles pensamentos que nos entram na cabeça sem grande sentido ou propósito.

Lembrei-me de várias coisas, entre elas, o momento em que ouvimos os dois, ou o momento em que ele me mostrou, determinada música pela primeira vez.
Estávamos só os dois no escritório, e a verdade é que como em todos os fins de semana ele estava um bocado tocado já pela cerveja.... Ouvimos a música, ele falou da Colômbia, como tinha saudades, da família, de muitas coisas muito pessoais... foi um momento muito pessoal para ele.

A questao que aproveito para abordar com este contexto - e podia usar muitos outros, porque aquilo que vou desenvolver tenho-o constatado em muitas muitas circunstâncias como esta - é que, para mim, existem duas formas de julgar correctamente as diferentes situaçoes com que nos vamos deparando.

A primeira é compreender que aquilo que nos rodeia é complicado. A percepçao pontual que temos das situaçoes é um culminar de contextos, histórias e outras percepçoes que nos sao externas e que justificam a situaçao actual com que fomos confrontados. Normalmente julgamos a realidade com base na percepçao que temos dela, aquela percepçao momentânea, e julgamo-la como se ela fosse realmente assim.
Quando conhecemos o contexto que levou ao momento da nossa entrada nessa realidade o nosso julgamento é completamente diferente. Para melhor ou pior... ...O infantil pode passar a reprimido, o benevolente a ignorante, o ignorante a falta de oportunidade, o inteligente a bazófia, o desinteresse a falta de estímulo...

A segunda é mudar os nossos paradigmas na percepçao desta realidade e entende-la directamente como simples. Perceber a situaçao que se apresenta como parte de um processo continuo sobre o qual fazemos parte e julga-la correctamente de acordo com esta percepçao de mudança, alteraçao, contexto, passagem, passado e futuro.

Na primeira julgamos algo, analisamo-lo e mudamos a nossa percepçao.
Na segunda, pela forma como nos percepcionamos, entendemos directamente a estrutura em que se desenha a realidade.
Eu funciono mais da primeira maneira, apesar de nem sempre chegar aos julgamentos correctos.


Sobre outro prisma - estes dois temas, na minha cabeça, fazem sentido juntos, apesar de quando penso em escreve-los me parecem completamente distintos - a realidade é muitas coisas ao mesmo tempo.
Isto é fácil de perceber e provar, um carro pode ser vermelho e pode ter 100 cavalos, e pode também ter jantes especiais! Tudo isto é o carro, o carro sao muitas coisas que o compoe. No entanto pode ser mais difícil entender que além de algo ser muitas coisas no mesmo momento, essa coisa pode ser coisas opostas, contraditórias, ao mesmo tempo também. O carro pode ter uma cor bonita e feia ou pode ser potente ou nao. Esta percepçao também ainda é fácil de entender, estamos a falar de gostos... até aqui nao complicamos muito!
Falemos de valores entao (e antes de continuar pensem em cada pergunta um momento): pode alguém ser machista e ter uma admiraçao/veneraçao incondicional pelas mulheres? Pode alguém criticar/depreciar/julgar negativamente/infamar/desacreditar/ofender algo, e mesmo assim sentir um orgulho injustificado pelo mesmo objecto? Ou ter perfeita consciência de que aquilo que tem é o melhor do mundo e que satisfaz todas as suas necessidades mas, ainda assim, nao lhe atribuir o menor valor?

Podem os colombianos, os portugueses, ou os finlandeses ser assim? Por exemplo!


Em vários momentos ao longo do tempo falei com várias pessoas sobre o Yin Yang. E o seu símbolo que parecem dois girinos que nadam em posiçoes opostas em cores simétricas.
Sempre o ouvir definir como o símbolo do equilíbrio entre o bem e o mail, o Yin e o Yang.
Mas ao ler e estudar um pouco mais sobre este símbolo (e muita atençao, porque sobre ele eu sou um completo leigo... outros passam toda uma vida para o entender completamente) entendi que tem um significado ainda mais profundo, mais elementar. Este equilíbrio fundamenta-se na premissa de que mesmo quando temos o "máximo" de bem, tem de existir aí um "ponto" de mal também, ao contrário também. Ou seja... nada é completamente mau, nem nada é completamente bom.
Entendo ainda, pessoalmente, que o mau "nao é mau", senao apenas um estado contrário ao bom, que valorizamos. Mas ambos fazem parte - ambos e em conjunto - da realidade completa.


A dicotomia Colombiana entre uma veneraçao exacerbada das mulheres e o machismo latente nestas relaçoes levanta-me algumas destas questoes/percepçoes.
A frase:


"Un hombre no és un hombre si no tiene una mujer que cuide de él."


Vai ficar para sempre gravada na minha cabeça, pela forma como representa toda esta cultura.

Deixo-vos a música, com a percepçao minha de que nao entenderao o que tentei escrever aqui. Nao por incapacidade mas porque o escrevo com o meu contexto e a minha história. E no meio dela está um Colombiano a chorar-me no ombro e a falar-me da Colômbia e isso, essa visao intensa do seu país, eu nao a poderia descrever. Ficaria contente se, ainda que nao da forma como o deixo, vos fizesse sentido na vossa História o que escrevo, afinal, a arte (a partilha de expressoes especifiquemos) é aberta e sujeita a interpretaçao.

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