11 de maio de 2011

Sem tempo

Estes dias têm sido de loucos! E estes dias vao-se transformar em semana, e esta semana vai-se transformar em semanas (esta e a próxima pelo menos). Nao tenho tido tempo, ou melhor, nao tenho tido cabeça para escrever!
É quase um desafio pessoal, mas gostava de poder ter algo para dizer quase todos os dias.
Vou diminuir estes dias em quantidade e tentar manter a qualidade (seja ela qual for).

O sigilo que ninguém me pediu nem sobre o qual fiz nenhum juramento, mas que penso inerente a qualquer profissao de saúde (ou qualquer outra), nao me permite alongar sobre descriçoes das consultas... porque senao aí sim... tinha muitas histórias para contar... e que histórias!!!

Amanha vai ser um mau dia, já sei e já me estou a preparar... é por isso que estou a escrever também... comunicar algo, sentir que partilho, descomprimir e evitar escrever amanha, porque vou vir para casa chateado. É assim... nao sei se é melhor saber que vamos ter problemas atempadamente (quando nao podemos fazer nada para os evitar senao esperar por eles de peito aberto e com responsabilidade de os enfrentar) ou que eles surjam sem aviso. Pode ser um tema de debate.

Anima-me saber que tenho, que temos, a razao do nosso lado... mas como estudei em psicologia... quando se trata de pacientes... ter a razao nem sempre é suficiente para se fazer levar a bom termo uma conversaçao, pior se temos na nossa frente alguém que nos tenta manipular com jogos de culpa e vitimizaçao.

...

Bem... já estou por tudo... já que comecei a escrever (e nao estava mesmo previsto... imaginem-se a escrever isto devagar e a pensar ao invés de estarem a ler tudo de chofre), vamos brincar ao faz de conta, e é mesmo faz de conta, o "caso" é o "seguinte":

Imaginem um paciente que - por inerência do título - tem um problema, vamos dizer que é amputado, abaixo do joelho pronto, exemplo.
Este paciente quer que façamos algo, algo que ninguém no mundo faz, e nao faz porque é muito difícil de fazer e porque nao se pode fazer, explicarei em seguida.
Este paciente, e o cliente, do dono da ortopedia, quer a todo o custo que o façamos. Porque se o fizermos ele vai sentir-se melhor com a sua deficiência, vai ficar extasiado eu diria mesmo.
Primeiro dissemos que nao, nao era possível, mas eles insistiram tanto... e quando digo tanto seriam coisas como "Pois porque tu tens as duas pernas, mas se tivesses só uma já me entendias!" ou o cliente "Vejo-te muito negativo I, vamos tentar, já viste se sai bem, era um caso espectacular!", coisas assim ditas de 1001 maneiras diferentes, nunca tinha sentido em mim e nos meus colegas, uma pressao psicológica tao grande.
Fui orientado que "sim" tentaríamos... mas - e porque o trabalho tem de ser feito em duas partes, uma que se pode fazer, mas outra que pode por em perigo o paciente - iríamos ver ao longo do processo como a coisa correria.
Aquilo que o paciente pede, a 2ª parte, realmente deixa-lo-ia "aparentemente" contente, muito contente, mas é um risco para a sua saúde e a literatura diz que nao se deve fazer, podiamos tentar mas nao devemos e agora que o processo já se iniciou, já vimos a 1ª parte e vimos como teria de ser a 2ª, decidimos hoje nao continuar. Podemos ficar pela primeira, que seria onde qualquer paciente pararia e ficaria contente, porque realmente traz algo de muito bom, ou podemos se ele quiser deitar o trabalho para o lixo... mas nao podemos avançar para a 2ª.

Ontem estive todo o dia - sem almoçar - com este paciente, a terminar a 1ª parte e nao vos posso contar como foi... mesmo que pudesse, nao podia! Porque foi mau de mais... a pressao psicológica, as expectativas exacerbadas, as minhas tentativas frustradas de o trazer à realidade e o Ortoprotésico da ortopedia a fomentar a insanidade do paciente. Na minha opiniao ele precisa de um Psicólogo, nao de um Ortoprotésico... aquilo que ele quer é outra "perna" e por muito que nos esforcemos, fazemos próteses, até pernas ainda nao chegamos, é a verdade... nós tentámos ajudar no que pudemos, mas acreditamos que ao continuar agora para o que ele quer, mesmo que nao entenda, só o íamos prejudicar e é isso que temos de lhe dizer amanha.
Ontem ele já me dizia que "Já sonhava quando estive terminado", "Imagina que fosses tu!". Eu sei que devo criar empatia com os pacientes, sei-o consciente e emocionalmente e acredito que o faço, mas o que ele me pedia, e pela forma como mo pedia, era quase demente e porque realmente tento criar esta empatia, e racionalmente nao sigo o instinto de me afastar (quer era o que devia ter feito), ele pos-me um sentimento de culpa e de tentar corresponder às expectativas que quase me cegou também, quase me convenceu. Felizmente ao debater com o meu chefe ele concordou imediatamente comigo e tirou qualquer dúvida da cabeça: "Nao!".
Amanha estarei eu, o meu "mentor", o meu chefe, o paciente e o ortoprotésico, eu acho que vao haver gritos... e nao me custa acreditar que aquele paciente atire alguma cadeira pelo ar... mas isso veremos.
Talvez escreva alguma coisa... se for possível desta forma, se a imaginaçao nao faltar... veremos!

Cross your fingers.....

1 comentário:

  1. Gostava de corrigir a parte do sigilo que ninguém me pediu porque de facto está no contracto de trabalho que assinei... sao na verdade vários paragrafos a falar disso! Posso comentar desde que respeite a privacidade dos pacientes e que o faça de forma que pretenda desrespeitar, insultar ou incomodar alguém! Está corrigido!

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