26 de maio de 2011

Argumentaçao VS Pensamento Paralelo

Nao sou um grande fa dos grandes filósofos gregos!
E esclareço quando digo "os grandes filósofos", porque outros "menores" parecem-me ter produzido trabalhos bastante mais importantes dos quais, do pouco que conheço, sou grande apreciador.

Outro post virá um dia onde explico melhor a minha opiniao...



Toda a gente tem uma ideia do que é argumentar.


O que nos dizem os textos é que:
A teoria da argumentaçao prende-se em tres disciplinas: a lógica, o dialecto e a retórica.
Terá começado o seu caminho histórico com Sócrates, passando por Platao e terminando (ou começando verdadeiramente como uma disciplina de estudo sério) com Aristóteles, resumindo muito muito.

Os Gregos valorizavam mais a Filosofia, a Musica, o Pensamento, enfim, "artes" mais conceptuais eu diria, mas isto pode ser contestado, nao é uma verdade absoluta em si.
Ao contrário os Romanos sempre foram mais pragmáticos, chegaram a desvalorizar a Ciência em prol da Retórica e de estudos Políticos e Literários.

No computo geral a educaçao Grega era melhor, seja dito. Seria normal aliás para um jovem, no tempo em que coexistiram com grandes naçoes e que a primeira nao havia influenciado definitivamente a segunda, que quisesse ter sucesso e assim o pudesse fosse terminar os seus estudos na Grécia.

Serve isto apenas para demonstrar como era importante o conhecimento para estas civilizaçoes que nas classes médias e alta tinham uma educaçao que podia ser quase considerada melhor que a de hoje (de acordo com o que se creia ser uma boa educaçao).

A Argumentaçao, voltamos ao início, foi criada como forma de debate lógico e persuasivo entre duas ou mais partes. Argumentar tem como base a pretensao de fazer crer a outros que a nossa ideia é a correcta, ou que aquilo que expomos é o lógico e o correcto.

Se o mundo fosse plano este sistema era perfeito. A é melhor que B optamos por A, A+C melhor que A, e A e C nao se excluem, optamos por A+C, perfeito.

A arte de bem expor argumentos, de bem falar, era um dos maiores privilégios e uma das qualidades maiores num homem e hoje, mais de 2000 anos depois, a coisa nao mudou muito na verdade. Aquele que consegue expor os seus argumentos de forma exemplar, sem falhas, com contra-argumentos, convicçao, e que consiga derrotar aqueles que tenham opinioes diferentes, é um homem de sucesso.
O exemplo mais claro é a própria Democracia, criada também nesse tempo. O sistema democrático baseia-se neste sistema de argumentaçao. Várias partes debatem entre umas e outras tentando convencer os outros sobre os seus certos pontos de vista.

Para terminar esta parte que fala da argumentaçao falamos do seu aspecto mais importante, o seu propósito final! A argumentaçao pretende definir, estabelecer por A + B, "aquilo que é"! O que é o bem, o que é o mal, o que é o amor, o que é a justiça, o que é o melhor! O problema em tentar definir "o que é", é que aquilo que é é muitas coisas em muitos momentos! O mundo nao é estanque, nao é plano!
Em 80% dos dialogos argumentativos de Sócrates (assim escritos por Platao) nao existe mesmo conclusao alguma. Ele limita-se a apontar o que é "errado" na tentativa de expor por oposiçao o "correcto".
Platao dizia que a verdade estava escondida para lá das sombras que viamos, expo-lo brilhantemente na sua alegoria da caverna e Aristóteles com a sua lógica taxonómica de inclusao e exclusao punha tudo dentro de "caixas". Podia ou nao algo estar dentro de uma caixa, o que nao podia era estar meio dentro e meio fora da caixa, nem podia estar em parte alguma que nao fosse dentro ou fora desta caixa. Ou era, ou nao era!
Como nota mesmo final é importante admitir a componente que o ego tem em tudo isto. Torna-se uma luta pessoal ganhar uma argumentaçao, onde o meu ego sai inflado ou diminuido se eu a ganho ou nao, por isso, no mundo moderno, estes debates sao motivados demasiadas vezes por esta componente. Nao é certo, nao, mas acredito que é muito habitual.


Imaginemos agora outra alegoria:
Estamos numa casa de campo, quatro pessoas estao de cada lado dos quatro lados da casa e cada uma delas está a tentar argumentar que a casa é como ela a vê, todas têm razao, mas nenhuma entende, porque assumiu o seu papel argumentativo, com o ego assente também, e procurará convencer as outras de que o seu ponto de vista é o correcto.
Imaginemos agora que as 4 pessoas dao, juntas, a volta a casa. Ou seja, em determinado momento, todas as pessoas estao juntas, a olhar para o mesmo ponto de vista, mesmo que todos os pontos de vista sejam diferentes, em cada momento, sao olhados, à vez, pelas mesmas pessoas, e com a mesma disposiçao.
Este é o princípio base (mas a coisa complica, ou complementa, um bocado) do Pensamento Paralelo.
Nao há mais dois lados opostos, existe um grupo que em determinado momento se sintoniza num lado do problema, depois em outro, depois em outro, e depois em outro...

Dirao: Mas isso leva a que depois de se analisarem todos os pontos de vista haja debate de novo. Nao!

O Pensamento Paralelo nao pretende definir "o que é" como a argumentaçao e portanto, na verdade, nao necessita de uma conclusao, este tipo de prática pretende definir "o que pode ser"!
Quando as quatro pessoas dao a volta à casa elas nao vao discutir se a janela está mais à direita ou mais a esquerda, alguém dirá "Há uma porta aqui" e outra acrescentará "Há uma janela alí". Nao existe um debate, existe um acréscimo de conhecimento.

E se se tornar necessária uma conclusao? Veremos!

Outro aspecto sobre este tipo de pensamento é que ele obriga-nos a ver os problemas com diferentes modos... explico:
Quando pensamos, muitas vezes, é como se estivessemos a fazer malabarismo com 10 bolas ao mesmo tempo. É muito difícil ter opinioes ora factuais, ora emocionais, ora positivas, ora cautelosas, ora criativas, ora tudo isto!... Juntamos tudo numa amalgama e começamos a disparar em cada direcçao.
Pensem nos lados casa como cada uma das características. Pensem que todos olham para a casa com uma disposiçao emocional "Gosto mesmo desta casa, faz-me sentir bem", "Eu nao gosto da cor", e agora algo factual "Na cidade eu nao tenho o lago à porta de casa, nem o cheiro a eucalipto quando abro a janela", "A cor desta casa é amarela". Ao juntar estas perspectivas a todas as outras a percepçao daquilo "que pode ser" e até daqui que "é" torna-se bastante mais evidente, nao acham? O ego foi removido da equaçao e em determinado momento toda a gente "viu" a casa pelo mesmo prisma.
Ter 10 cabeças a pensar no mesmo ponto de vista à vez (mais que o ponto de vista é com a mesma disposiçao) é muito mais produtivo do que ter 10 pessoas a pensar por si e a tentar derrubar os outros 9.



Ao escrever este post sinto que fica bastante incompleto mas a minha intençao tambem nunca é abrir a cortina, acho que podem perceber melhor (e melhor que eu) se aquilo que interessar o pesquisem. Tudo o que escrevi aprendi em livros ou em artigos (este post tem muito pouco de desvaneio pessoal) mas a maior parte, ou pelo menos a parte que considero importante, vem do livro Six Thinking Hats de Edward de Bono. 
Aconselho vários livros, normalmente pelo prazer que dá a sua leitura, mas este... aconselho-o a toda a gente como forma de impulsionar o nosso mundo a uma mudança para melhor! E se eu nao vos convenço que convençam os seguintes factos:

  • de Bono foi convidado para presidir uma reuniao de laureados Prémios Nobel.
  • Tem um planeta com o seu nome.
  • Está na lista de 250 personalidades que mais contribuíram para a História Humana elaborada por um grupo de Professores de Africa do Sul.


Sim, gostava mesmo que mais pessoas lessem este livro!!!

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