18 de fevereiro de 2011

A primeira palavra

Penso que a primeira palavra alguma vez emitida por um ser humano foi um grito!
Um grito que pode ter sido de alegria, dor, espanto ou muitas outras coisas, mas que no seu cerne expressava em raiva uma frustraçao, a frustraçao de nao conseguir satisfazer uma necessidade que sempre nos foi primária, a de nos exteriorizarmos, a de nos fazermos maiores, de nos transportar além de nós. Assim terá nascido a primeira palavra.
E esta terá sido talvez a única palavra pura que existiu. A única que expressou alguma vez um pensamento/sentimento (estou seguro que nesta altura estes dois nao se separavam como agora) na sua real e total abrangência.

Penso em alguma outra pessoa (chame-mos pessoa a estes novos seres que sao agora maiores que si mesmos), neste espaço/tempo (estou seguro que nesta altura estes dois nao se juntavam como agora) que desconheço, a tentar reproduzir o mesmo som! A principio sai um pouco ao lado, mas com treino aparece e nasce o primeiro conceito. E a partir deste momento morreu a única palavra que alguma vez existiu.
Porque esta nova pessoa nao so nao sente nem nunca sentirá o mesmo que o primeiro mas pior que isso... vai conceituar/limitar (estou seguro que neste momento estas duas palavras sao sinónimos) o seu próprio pensamento há percepçao do que a palavra deve descrever.
E é neste ponto que ficámos, no que concerne à linguagem!
Estamos ainda no mesmo nível que este segundo ser, que recebe, percebe ao seu modo, imita e perde a capacidade de criar.
Eu pergunto... algum de vocês consegue criar um pensamento sem o conceituar? Sem lhe adjectivar um conceito? Experimentem... "Bem... ok... vou pensar sem dar uma palavra, vou pensar em...." e pronto, já está!
Raciocinio é aliás um sinónimo de Discurso e é sempre isso que fazemos mentalmente, discursamos connosco mesmos!
E eu pergunto... como podemos pensar verdadeiramente sobre as grandes questoes? Como podemos conceber verdadeiramente em nós O exterior, Os outros, As parábolas?

...

Seria muito injusto nao salvaguardar que a linguagem, ainda que seja uma aproximaçao e uma limitaçao ao pensamento, nos permitiu ir mais longe do que este primeiro falante alguma vez pôde sonhar, e tal como muitos outros, o seu legado ultrapassou-o e suprimiu. É apenas uma pena que, com tanta formataçao, sejamos já incapazes de sentir, no nosso intimo, algo que seja realmente nosso e que sendo nosso, o consigamos exprimir.

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