27 de janeiro de 2012

Honour Among Thieves

Vinha do trabalho no autocarro, como de costume, a ler.

Lia um artigo interessante sobre tecnicas de coloraçao de vidro com nanoparticulas.
O primeiro contacto que tive com o mundo do vidro e da arte de o produzir foi em Veneza, com o vidro de Murano, e desde entao que fui percebendo como é uma arte secular cuja mestria vem sendo aperfeiçoada e a pesquisa e saber são profundos e misteriosos.

Normalmente, quando viajo de autocarro aproveito para ler/trabalhar - como adenda desenvolvo ainda que... além de seres mais ecologicos e mais economicos, o tempo que se ganha usando estes transportes é enorme: no pouco mais de 30m minutos que demora a viagem até à paragem há porta do trabalho eu estudo bastante, na viagem de volta também, é mais de uma hora de estudo por dia que se fosse a conduzir nao tinha... nao entendo, nem concordo, com a chamada "comodidade" do carro, é só um a parte... - e o sitio onde me sento é importante.

Lembro-me de alguém de dizer quando era pequeno que nao gostava de ir na parte de trás da camioneta porque com os amortecedores subia-se e descia-se muito e ficava-se mal-disposto, cresci com esta crença até me aperceber certo dia que enjoava (se lia) mais na metade da frente do autocarro.
As curvas na parte da frente do autocarro sao mais abertas, na parte de tras, que "segue" a da frente, nao curva tanto e por isso é mais facil ir lendo sem problemas.
Por este motivo sento-me agora  mais atrás.

Se antes me sentava atrás do banco reservado a incapacitados e idosos e isso me valeu ouvir uma serie de conversas engraçadas entre velhotes, agora sento-me no banco à frente da ultima fila da parte de trás e ouço conversas de miudos (sou um cuscuvilheiro). Bem, nao é verdade que ouça muito, como disse vou a ler, mas a meio da viagem de hoje acabou-se o artigo e dois rapazes que nao faziam questao de nao serem ouvidos estavam sentados ora atras de mim, um, ora nos bancos do lado outro.

Eram dois miudos, deviam ter 16/17 anos, calças de ganga, casaco de carapuço que nao sai da cabeça, fosse verao e teriam os oculos de sol postos, cabelo rapado, brincos na orelha, sotaque de rua e vocabulário a condizer pés em cima dos bancos vazios.
Dizia A para B (o terceiro personagem vai ser CC); e nao vou traduzir literalmente, o Portugues nao tem sequer tanta asneira para ser traduzida, alias, eu tenho a teoria de que os Espanhois nao têm asneiras no vocabulario, porque para eles quase nada é asneira, pode-se dizer tudo, mas ainda assim conseguem ser pródigos e muito criativos quando lhes toca praguejar:

A - Meu, bora sair.
B - Men nao posso, tou sem guito.
A - Bora la meu, vamos para casa de alguém, compramos umas birras e fazemos a festa.
B - Epa estou mesmo sem cheta pa, nao tenho dinheiro, nem tabaco nem nada (vao substituindo ou acrescentando varias asneiras, este "nada" por exemplo, nao era um "nada", mas aquilo a que se chamava antigamente ao topo do mastro principal dos barcos, "o car***").

...

A - Epa nem sabes o que me aconteceu no outro dia!!!
B - Entao?
A - Entao nao é que estou à janela do meu quarto e vejo um gajo (aqui passou, literalmente, 1 ou 2 minutos a insultar este indivíduo) a passar com a minha bicicleta, a que me tinham roubado!
B - A serio?!!
A - Sim meu. Ouve, desci logo com um bastao na mao, fui ter com o gajo (aqui descreveu a conversa onde lhe chamou tudo menos santo) e meu, ia-o matando, e o gajo ainda me diz "Epa nao te ponhas assim, tem calma", tem calma??? (novo jorro de insultos) eu matava o gajo, nem pintou a bike nem nada o otário (nao foi "otário" que lhe chamou).
B - Eina, ca ganda cena...
A - Ia meu... por uma bike que nem 30€ custou, mas nao interessa... é minha.
B - Ia meu, é tua...
A - Eu até conhecia o gajo de vista... era o... o... epa o nome dele era C qualquer coisa... C.
B - CC?
A - IA, ia... era esse mesmo!
B - Eina esse gajo é meu colega!!!
A - A sério??
B - Sim meu... é um gajo bacano.
A - Pa pode ser bacano mas nao tinha razao meu. - num tom de aquiescência mais calma mas pedindo concordância.
B - Ia ia meu, se nao tinha razao nao tinha razao.
A - Ia, bolas (ele nao disse "bolas").
B - Ia meu, sao cenas que acontecem.
A - Pa ia...

Eu nao sei se estao a perceber o diálogo... é dificil pela ausência de tons e volumes, e pelo vocabulario em si que nao recordo ou nao se traduz, mas no final, ambos concordavam que era uma coisa "normal", ou seja, podia acontecer a qualquer um! Quer dizer... roubar uma bicicleta e ter o azar de se encontrar com o dono (só a mim é que isso nao me acontece...) é uma chatice realmente... e pronto, nesse caso uma pessoa só tem de dar o braço a torcer e admitir que "nao tem razao", é como ser apanhado a por o dedo na tarte de maça que estava na janela estao a ver a traquinice? Realmente, raios partam, que chatice. (parece que estou a ouvir o Markl a dizer esta frase!!!).

Afinal, o problema deste mundo é levarmos as coisas demasiado a sério! (ou nao, ou nao)

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