5 de setembro de 2012

Os lideres nascem lideres, ou aprendem a ser lideres?

Uma pergunta frequente nos testes psico-técnicos. Uma pergunta que sempre me deixou indeciso na resposta.
Naturalmente que podemos aprender a ser pessoas diferentes, melhores ou piores conforme as nossas experiências, pelo que, naturalmente também, acho que se pode aprender a ser um bom líder.
Por outro lado, olho em volta e na minha apreciaçao subjectiva acho que existem pessoas que nao teriam a capacidade para liderar bem um grupo nem que o tentassem fazer durante anos. Se essa inadaptidao se deve a um conhecimento por adquirir ou é realmente devida a uma incapacidade comportamental inata nao consigo afirmar com certeza, mas acredito que todos nascemos com alguns traços inerentes de personalidade, pelo que sim, acho que alguns nascem mais propensos a algumas actividades e menos a outras.

Lembrei-me deste tema porque estou a acabar de ler a auto-biografia do Nelson Mandela, como já tinha dido, e chegando ao desfecho esperado começo já a pensar nas primeiras páginas onde retrata a sua infância e faço eu o percurso mental daquela vida... a forma e o meio em que cresceu, os processos por que passou e a forma como se construiu. Penso agora, há distância ilusória de umas semanas de leitura onde percorri a sua vida de mais de 70 anos, que desde pequeno se lhe mostravam esses traços que o distinguia de muitos... uma responsabilidade inerente, uma independência natural e um respeito pelos demais assegurado, boas qualidades para um líder a meu ver.

Gostei do episódio do jogo (luta) do pau que conta, senti-me identificado com estes pequenos episódios de infância que nos recordamos porque representam cada um um momento onde, de um momento para o outro, aprendemos algo. Como se de repente determinado assunto ficasse entendido e arrumado na nossa cabeça.

O Mandela lembra-se de várias lutas do pau, era um bom oponente diz, mas nao gostava quando via algum oponente humilhar o outro, afirma que se pode ganhar sem humilhar e que nunca humilhou um oponente.

Sempre fui, e continuo a ser, uma pessoa competitiva. Gosto quando faço algo bem feito, em igualdade de circunstâncias, gosto de saltar acima da média. Acredito na justiça e portanto só me revejo crédito se vir que todos os que me rodeiam têm as mesmas oportunidades que eu e que partindo todos do mesmo início eu consigo uma boa marca, nao gosto de batotas...

Lembro-me de um episódio, no secundário, onde deixei de estudar na véspera de um teste porque uma colega me disse, em preocupaçao, que nao ia poder estudar naquele dia porque a mae estava doente! Achei que era injusto que eu estudasse, já que ela nao tinha culpa da mae estar doente, e nao estudei nesse dia.

Deste episódio nao tiro grande moral, a nao ser que os adolescentes sao um bocado parvitos!

Dito isto, sei que nao humilho os meus oponentes, a satisfaçao de um bom resultado advém da minha conquista, nao da sua derrota, mas a verdade é que este sentimento, ao contrário da constância e maturidade de Mandela, foi-me aprendido por falhas pessoais em dois episódios recordados, um na minha infância e outro por altura do episódio anterior. Por me manter na mesma época conto o segundo!

...

Nos torneios inter-turmas desta altura a minha turma ficava sempre (nao me recordo nenhuma vez em que nao tenha acontecido) em primeiro lugar: no basket, futebol, voleibol, corfebol, etc, esses desportos que se aprendiam em Educaçao Física.
Antes de uma final de voleibol as duas turmas, todos conhecidos de recreio e até alguns amigos desse tempo, trocavam impropérios sarcásticos mas aceitáveis para a ocasiao. Entre as "bocas", como se diz na gíria, de um lado e do outro, a dado momento eu disse ao capitao da outra equipa, que era um, termo tecnico, "gingao" lá da escola: "Nao sei p'ra que é que vao jogar, sabes que vao perder!", a fama da nossa turma era conhecida e aquele comentário tocou-lhe a fímbria e aguçou-lhe a vontade de vencer.

A tradiçao manteve e entre abraços, gritos, ovaçoes e espera de medalhas o capitao derrotado passou perto de mim para os balneários e foi aí que eu lhe disse 3 palavras das quais ainda hoje me arrependo: "Eu disse-te!"
O que se sucedeu tenho-o gravado na mente e apagou tudo o resto pois nao me lembro nem do jogo nem das medalhas nem de mais nada; com os olhos túrgidos ele deu um passo na minha direcçao e com a mao em riste gritou: "MAS TU ÉS PARVO? ACHAS QUE ISSO SE DIZ A ALGUÉM?", ficamos, 2 segundos talvez, a olhar-nos em cólera e em espanto e ele foi-se embora, fiquei sem palavras.

Estava arrependidíssimo do que havia dito e entre aquela bola na garganta e o sentimento de culpa a hesitaçao do suposto rebaixamento demorou pouco a passar. Fui ter com ele, que estava com outros colegas derrotados e pedi-lhe desculpas pelo que disse, ele tinha razao.

Apesar do arrependimento é capaz de ter sido importante que tivesse acontecido, existem coisas assim, vivendo sao muito mais intensas, e a aprendizagem é muito mais profunda. Acredito ter adquirido uma boa qualidade!

2 comentários:

  1. É uma questão pertinente que ninguém certamente sabe responder. Eu diria que as características de personalidade são apenas uma variável. Entre outras tens a educação, as vivências ou experiências de vida, o contexto social onde vives, as oportunidades, o estar no sitio certo á hora certa. E imagina só a abrangência, é um bom líder em contexto de trabalho mas em contexto social é péssimo. O Steve Jobs era um bom líder ? ou era apenas um visionário obsessivo pela "sua" noção de perfeição... O Winston Churchill foi um bom líder há 50 anos mas se lo ia hoje ? pelo que li não. Foi o homem certo na altura certa no contexto certo. Como Hitler por exemplo. Mas de uma coisa eu estou certo, não sabendo de nascem ou sem criados, de uma coisa eu tenho certeza ... ELES ACREDITAM CONVICTAMENTE.

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  2. Sim, acho que tens razao, nao tinha sequer pensado nesse prisma, vai além das capacidades, da educaçao e experiencia, reveste-se também do contexto social/histórico em que se encontra, é verdade! O próprio Mandela começou uma guerrilha armada contra o regime, ele combateu o fogo com fogo e recebeu o Nobel da Paz! Os acontecimentos desse tempo assim o justificaram e determinaram.
    E sim, estes lideres históricos - Hitler, Churchill, Mandela, Ghandi... - todos eles mostram uma convicçao inabalável, agora que o disseste, acho que é mesmo uma nota comum sim!

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